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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Levítico: formação de um povo santo

Por: José Rogério de Pinho Andrade.


A Bíblia é de fato um conjunto de livros fantásticos e interessantíssimos! Terminada a leitura do livro “LEVÍTICO” aprendi que o ideal proposto ao povo liberto por Deus da escravidão do Egito, basicamente consiste em cultuar o Deus libertador, reconhecendo seus dons por meio de sacrifícios minuciosamente explicados, servi-lo por intermédio dos sacerdotes e comungar com Ele através do perdão procurando “ser santo como o próprio Javé é santo”. (Lv. 19, 2).
A santidade consiste em oferecer cultos ao Deus libertador e, fundamentalmente, em viver a justiça e o amor de Deus (Javé) nas relações e práticas concretas, traduzindo-se no mandamento fundamental de toda a ética: “ame o seu próximo como a si mesmo”. (Lv. 19, 18). A lei de Santidade estabelece interdições e deveres que vão da proibição de culto a deuses falsos (Lv. 17, 7) e ao deus da morte (Lv. 20, 1-7), passando pelas uniões sexuais (Lv. 18, 1-30) e pela ingestão de determinados alimentos considerados sagrados (Lv. 22. 1-33), dentre outras condutas.
Dentre os deveres, a lei de Santidade (Lv. 19, 1-37) estabelece a obrigação de respeitar a família (Lv. 20, 8-21) e de guardar e colocar em prática a Lei (Lv. 20, 22-27) e da obrigação que têm os sacerdotes de manterem-se santos e puros (Lv. 21, 1-24).
Minha atenção foi especialmente atraída pela dedicação que o texto bíblico dá ao trabalho e à necessidade de descanso (ócio), ambos considerados sagrados, principalmente pela proclamação das assembleias sagradas, as festas do ano (Lv. 23, 1-44): o texto é prodigioso na determinação de períodos de descanso, pois, além dos Sábados, há pelo menos sete dias de descanso associados a seis dias de festas sagradas.
Quanto à justiça, a lei aparenta ser dura, principalmente quanto à agressão física ao outro, entretanto, também é justa, pois estabelece que: “se alguém ferir o seu próximo, deverá ser feito para ele aquilo que ele fez para o outro: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente”. (Lv. 24, 19).
Correndo o risco da heresia, em uma leitura associada ao contexto político atual, para alguns o texto poderia ser associado a algum tipo de “manifesto esquerdista-comunista”, principalmente quando afirma que “todos têm o direito à terra e à casa própria” (Lv. 25, 23-34) e que é “proibido se aproveitar da miséria alheia” (Lv. 25, 35-42), bem como é proibido “escravizar o povo” (Lv. 25, 44-55).
Esplendorosamente rico em detalhes sobre a conduta humana e sobre a promessa de Deus para os homens, o livro bíblico “Levítico” está sujeito (como todos os demais livros, bíblicos ou não) às apropriações inadequadas feitas pelos diversos interesses ideológicos próprios da condição política e moral do ser humano. Para mim, entretanto, foi uma aprendizagem a mais e, como sempre oriento meus alunos, pensar e saber mais com a leitura dos clássicos é (ou deveria ser) uma obrigação de todos nós. Nada mais clássico do que a Bíblia!

Referência:

BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Parábolas Filosóficas - O ladrão de Machado

O ladrão de machado
Por: José Rogério de Pinho Andrade

Um agricultor não conseguia encontrar seu machado. Ele desconfiou que o filho do vizinho o tinha levado e começou a observar. O comportamento do rapaz era tipicamente o comportamento de um ladrão de machado. O rosto era de um ladrão de machado. As palavras que ele pronunciava só podiam ser palavras de um ladrão de machado. Todas as suas atitudes e todos os seus movimentos eram os de um sujeito que roubou um machado.
Mas, um dia, mexendo por acaso num monte de lenha, o agricultor achou o seu machado.
Na manhã seguinte, quando viu de novo o filho do vizinho, o rapaz já não deixava transparecer mais nada, nem no comportamento, nem na atitude, nem no modo de agir, que lembrasse um ladrão de machado.
(Parábola chinesa atribuída ao mestre taoísta Lie Yukou – século IV a.C.)



Referência:

PIQUEMAL, Michel. Fábulas filosóficas. Ilustração Philippe Lagautrière, trad. Irami B. Silva. 2 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. p. 18-19.