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sexta-feira, 21 de maio de 2021

MONDIN, Battista. O homem quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. Trad. R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari. São Paulo: Paulus, 1980

Considerar o homem como ser de liberdade é reconhecer que ele reivindica para si autonomia. Por autonomia se entende que o homem se sente responsável por seus atos e se percebe independente das pressões vindas do exterior e do interior. (MONDIN, 1980, p. 111).

O termo liberdade é de difícil precisão, entretanto, há núcleo comum nos diversos conceitos que é a ideia de ausência de constrangimento. Os constrangimentos podem ser de diferentes tipos e, a depender deles, se tem diversas formas de liberdade. Assim, é possível falar em liberdade física, psicológica, política, moral e liberdade social. (MONDIN, 1980, p. 112).

O problema da liberdade não foi investigado satisfatoriamente pelos antigos por três razões fundamentais: a) de modo geral a cultura grega considerava que todas as coisas estão sujeitas ao destino; b) o homem como parte da natureza, está sujeito às leis gerais que governam o mundo e c) o homem está preso às engrenagens da história em seu movimento cíclico. (MONDIN, 1980, p. 113).

No pensamento cristão, a liberdade é sobretudo uma relação entre o homem e Deus, pois, a natureza e a história encontram-se a serviço da Previdência Divina. A questão da liberdade passará a problematizar a possibilidade do livre-arbítrio diante da Previdência Divina.

Na Modernidade, a perspectiva antropocêntrica passa a substituir a teocêntrica e a liberdade será problematizada a partir das relações da consciência com as outras faculdades da razão, com os outros indivíduos, com a sociedade e o Estado. Predomina o problema da liberdade associado à ideia de autonomia humana. (MONDIN, 1980, p. 113).

O período contemporâneo problematiza a liberdade sobretudo do ponto de vista social. Assim, a liberdade é considerada a partir da relação que estabelece a criação das forças sociais, criadas pelo próprio homem e voltando-se contra ele.

Com relação ao problema da liberdade há quem prediga que o homem não é livre: esta é a perspectiva determinista. O determinismo extrínseco, vê a condição de negação da liberdade como exterior ao homem que não possui liberdade em função de causas como o fado, o destino, os demônios, etc. É denominado também de determinismo mitológico. Um segundo tipo de determinismo extrínseco, é o teológico, para quem de modo semelhante ao primeiro, o homem não é livre em razão da Previdência Divina, ou seja, “a onipotência de Deus não deixa espaço nenhum para o exercício da liberdade humana.” (MONDIN, 1980, p. 114).

Outro tipo de determinismo com suas variantes, é o determinismo intrínseco. As diversas formas deste tipo de determinismo, fundamentam a ausência de liberdade na própria condição de existência do ser humano. Pode-se, então, falar de determinismo fisiológico, sociológico, psicológico, metafísico e político. Assim, a vontade é reação de combinações físico-químicas do organismo, ou pela pressão exercida apela sociedade e suas estruturas sobre o indivíduo, ou ainda a vontade é determinada pelo intelecto e seus conhecimentos, ou como uma parcela da Vontade Suprema (a natureza, por exemplo) e, por fim, submissão da vontade dos cidadãos ao à vontade do soberano ou da classe governante. (MONDIN, 1980, p. 115).

Mas há quem negue a perspectiva determinista afirmando, portanto, o indeterminismo para o qual o home é livre. Do ponto de vista gnosiológico, há duas vertentes: a postulatória que afirma a liberdade, mas ao mesmo tempo a impossibilidade de demonstração teorética de tal verdade (é a perspectiva defendida por Kant, por exemplo), e a postura assertória que defende a posição de que o homem é livre e é possível aduzir provas decisivas de tal liberdade (posição defendida por Aristóteles, Locke, Agostinho, e outros). (MONDIN, 1980, p. 115).

Há também a perspectiva ontológica que apresenta duas explicações básicas: a explicação essencialista, que defende que a liberdade é qualidade essencial do ser humano, embora não seja a sua própria essência, e a existencialista, que defende que “a liberdade constitui a própria essência da natureza humana.” (MONDIN, 1980, p. 115).

Battista Mondin (1980, p. 115), diante de tantas explicações sobre a liberdade humana, considera que “a solução mais fidedigna” é a que “pode demonstrar que o homem é livre e que a liberdade mesmo não se identificando com a natureza humana, faz parte de sua essência. (MONDIN, 1980, p. 115).

O problema da linguagem

Muitas são as definições sobre o ser do homem: ele é racional, é livre, é ser de moralidade e eticidade, é ser de trabalho e cultura, etc. A estas definições, acrescenta-se a que o caracteriza como ser de linguagem, como ser falante: homo loquens. A propriedade de falar distingue nitidamente o ser humano dos demais seres da natureza.

A linguagem, a palavra permite ao ser humano falar de tudo e tentar explicações para tudo, dos problemas internos da mente, aos problemas externos da natureza e da sociedade. Ela permite a acumulação do conhecimento proporcionando um maior poder de intervenção e de aprimoramento de si, da sociedade e até da natureza. Entretanto, este conhecimento também pode ser utilizado em sentido inverso, de modo destrutivo. Deste modo, a linguagem pode promover tanto a liberdade quanto a opressão. (MONDIN, 1980, p. 136-137).

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