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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O que é Ideologia

O que é Ideologia.
José Rogério de Pinho Andrade

O conceito de ideologia é essencialmente moderno, pois as explicações da realidade anteriormente eram dadas pelos mitos ou pelo pensamento religioso. Em seu significado é utilizado para indicar uma doutrina “mais ou menos destituída de validade objetiva, porém mantida pelos interesses claros ou ocultos daqueles que a utilizam”. (ABBAGNANO, 2000)
Hoje se entende por ideologia o conjunto dessas crenças, porquanto só têm a validade de expressar certa fase das relações econômicas e, portanto, de servir à defesa dos interesses que prevalecem em cada fase desta relação.
Este termo Ideologia foi criado por Destutt de Tracy, filósofo francês, no final do século XVIII para designar “a análise das sensações e das idéias”. Em seu livro “Elementos de ideologia” (1801) ela foi compreendida como “ciência da gênese das idéias”. Ele procurou elaborar uma explicação para os fenômenos sensíveis que interferem na formação das idéias, isto é, a vontade, a razão, a percepção e a memória. Ele partiu da crença na razão e no poder da ciência em submeter as idéias ao mesmo processo de análise e compreensão dos objetos naturais.
Napoleão Bonaparte entendeu o conceito de ideologia como “idéia falsa” ou “ilusão” considerando-a como a compreensão de um discurso metafísico e distante da realidade. De caráter depreciativo, o termo designava a postura daqueles que se encontravam alheios à realidade, pois carentes de senso político, suas idéias foram consideradas desconexas da realidade em que viviam.
Augusto Comte (1798 – 1857) o compreendia como o estudo da formação das idéias a partir das sensações (relação do homem como o meio), mas acrescentou o sentido de conjunto das idéias de determinada época.
Para Raymond Williams o conceito de ideologia pode ser entendido a partir de três concepções básicas:
a)     Como sistema de crenças de uma classe ou grupo social.
b)    Como sistema de crenças ilusórias – o que se chamava de “falsa consciência”.
c)     Como processo geral de produção de significados e idéias.
Karl Marx não apresentou um único sentido para o termo ideologia. No livro “Ideologia alemã” (1846), ele se referiu ao conceito de ideologia como um sistema elaborado de representações e de idéias que correspondem a formas de consciência que os homens possuem em determinadas épocas e que seriam o resultado de como se organizam as formas de produção. Assim, ele considerou o termo a partir de seus três elementos básicos que caracterizarão sua compreensão da sociedade capitalista, a saber: 
a)     Separação: resultante da divisão da vida humana em duas instâncias específica: a infra-estrutura (esfera da produção material) e a superestrutura (produção das idéias). A primeira se compõe da economia (a produção dos bens necessários à sobrevivência dos homens) e, a segunda, se constitui da moral, do direito, da política e das artes.
b)    Determinação: relação decorrente da separação entre infra-estrutura e superestrutura onde se observa que a primeira determina e condiciona a segunda. No entanto, esta reproduz a primeira.
c)     Inversão: considerada distorção da realidade. A ideologia apresenta aos homens a realidade de modo inversa àquilo que é. O conhecimento científico seria capaz de colocar o mundo como ele é, pois revelaria os mecanismos de separação e determinação da realidade.
Émile Durkheim ao discutir a questão da objetividade científica, afirma que para ser o mais preciso possível, o pesquisador precisa deixar de lado todas as pré-noções e as idéias subjetivas. São essas idéias que ele entende por ideologia. Seria ela assim o contrário de ciência.
Karl Mannheim (1893 – 1947) no livro “Ideologia e Utopia” (1929) identifica duas formas para a ideologia: uma particular e outra total. A particular corresponde à ocultação da realidade que provoca engano. A ideologia total é a visão de mundo (cosmovisão) de uma classe social ou de uma época. Nesse caso não há ocultamento, apenas a reprodução das idéias gerais que permeiam uma sociedade. As ideologias são sempre conservadoras, pois expressam as idéias da classe dominante, e visam à estabilização da ordem. Em contraposição, chama de utopia o que pensam as classes oprimidas, que buscam a transformação. 
O filósofo brasileiro Paulo Ghiraldelli Júnior nos fala de ideologia a partir de três características fundamentais, a saber:
a)     “A primeira característica de um conjunto de idéias que se pode chamar de ideologia é a de vir antes que qualquer outra coisa. Ela pertence ao que se quer mostrar e, de preferência, em primeiro plano. Ora, mas há outras duas características da ideologia.”
b) “A segunda característica é a busca de universalidade a qualquer preço. Um conjunto de idéias que é bem particular, que não tem grande força lógica para se tornar universal e, no entanto, busca se tornar universal e quer ser uma verdade independente de todos e uma verdade para todos, já está funcionando como ideologia. É próprio de um conjunto de idéias que se quer transformar em ideologia procurar se colocar de modo abstrato, para ganhar universalidade.”
c)     “A terceira característica da ideologia é que ela quer antes mostrar a verdade “que se tem de seguir” do que um conjunto de enunciados que, possa levar à reflexão a respeito de outros conjuntos de enunciados e assim por diante. Ela, a ideologia, aceita pouco aquilo que Robert Brandom, louvado por Rorty, chamou de “o jogo de dar e pedir razões”. Nesse sentido, é próprio da ideologia o engodo, a ilusão ou o erro.

Em geral, pode-se denominar ideologia toda crença usada para controle dos comportamentos coletivos que pode ter validade objetiva ou não. A crença vira ideologia não por ser válida ou não, mas a ter a sua capacidade de controlar os comportamentos em determinada situação.
A proteção contra a ideologia é o uso da razão. Todavia, temos de nos lembrar que o uso da razão, a racionalização de tudo, pode também ser ideológica.

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