Verdade e Teorias da Verdade
José Rogério de Pinho Andrade
Ü Quando
falamos de teoria da verdade tratamos de esclarecer cinco temas:
a) O
conceito de verdade;
b) A
relação de compreensão do uso comum do conceito de verdade com o uso do
conceito na ciência e na filosofia;
c) Os
critérios da verdade;
d) Os
pressupostos do conceito de verdade;
e) A
relevância do problema da verdade.
Ü “O
conceito de verdade na experiência cotidiana é que um enunciado é verdadeiro,
quando corresponde aos fatos.” (p.129)
Ü O
problema filosófico é saber se conhecemos a verdade.
Ü Verdade
e certeza não são sinônimos. Então o que significa a verdade?
Ü Para
Leibniz “as verdades de fato são proposições verdadeiras para todos em toda a
parte e em todos os mundos.” Elas constituem as estruturas formais dentro das
quais devem realizar-se. (p. 129)
Ü Na
filosofia de Sócrates, Platão e dos clássicos indagava-se pela essência da
verdade.
Ü A
filosofia analítica restringe-se ao conceito de verdade e sua significação
dentro da linguagem.
Ü Quanto
aos critérios de verdade eles existem? Onde se encontra a medida da verdade, no
sujeito ou no objeto?
Ü No
empirismo lógico do século XX defendeu-se, em princípio, a verificabilidade
como o critério de verdade.
Ü Na
história da filosofia, citam-se como critérios de verdade, ora a evidência, ora
a práxis, ora o consenso.
Ü Outra
questão é a das condições de verdade, como verdade e história: antiguidade
tenta-se compreender a história como universal e absoluta, pois fundada em uma
realidade ideal. Na modernidade a história entende que nada é eterno e
imutável.
1.
Teoria
da adequação ou correspondência
ü “O
critério de verdade dessa teoria é o de adequação ou conformidade do pensamento
ou da proposição com a realidade.” (p. 130)
ü “Verdade
não diz apenas acordo interno do espírito consigo mesmo ou com as
representações por ele elaboradas, mas conformidade do juízo com uma realidade
transcendente à consciência. O fundamento da verdade do juízo é o ser, a
existência real e efetiva.” (p.130)
ü “Nessa
teoria reconhece-se a preferência ao aspecto objetivo em relação ao subjetivo.
Pressupõe-se que os objetos existam em si. Para conhecer, o sujeito deve
submeter-se aos dados. O sujeito é determinado pelo objeto.” (p. 131)
ü Esta
teoria se fundamenta nas idéias de são Tomás de Aquino (1225 – 1274) para quem
“a verdade de uma proposição é garantida pela correspondência entre o juízo do
intelecto e a realidade intencionada.’ (p.131)
ü Para
ele, “as coisas e não o intelecto, são a medida da verdade.” (p.131)
ü Platão
já definia que “verdadeiro é o discurso que diz como as coisas são; falso é
aquele que as diz como não são.” (p.131)
ü “Segundo
Aristóteles, a verdade está no pensamento ou na linguagem, não no ser ou na
coisa (Met. VI, 4). A medida da verdade é o ser ou a coisa, não o pensamento ou
o discurso.” (p.131)
ü Alfred
Tarski (1902 – 1983) designa esta teoria como “a concepção semântica da
verdade” e vê “o critério da verdade numa relação entre a realidade, de um
lado, e o conhecimento, do outro.”
(p.132)
ü O
homem chega ao conhecimento de duas maneiras:
a) O
conhecimento da realidade é intuitivo e, portanto, indizível e inexplicável;
b) O
conhecimento postulado consiste em formar uma proposição sobre a realidade.
ü Para
Habermas “a verdade pertence à dimensão do discurso e se verifica mediante
argumentações sucedidas.” (p.133)
2.
Teoria
da coerência.
ü “A
verdade de um juízo ou proposição consiste na coerência desse juízo ou
proposição com o sistema em que se insere. (...) se uma proposição é verdadeira
ou falsa, depende da coerência como se relaciona com outras proposições da
mesma teoria.” (p.134)
ü Pode
ainda ser formulada de modo subjetivo quando estabelece que: “uma crença é
verdadeira quando é coerente com minhas demais convicções.” (p.134)
3.
Teoria
do Consenso
ü Formulada
por Jürgen Habermas baseia-se “na experiência de que o conhecimento de uma
pessoa depende de outras pessoas que também conhecem.” (p.135)
ü “A
verdade não é uma simples propriedade de proposições. Com ela vinculamos
determinada reivindicação em relação a
outros. (...) uma proposição é verdadeira quando um discurso sobre ela conduz a
um consenso fundamentado.” (p.135)
ü Tal
teoria tem limitações: primeiro é que ela iguala verdade e validade; em segundo
lugar é o critério do consenso discursivo. “A concordância intersubjetiva de
todos os parceiros parece ser definida exclusivamente em proposições lógicas.”
(p.135)
ü “O
consenso não pode ser o último critério de verdade ou de falsidade, sem recurso
à experiência e á evidencia e sem referencia ao objeto.” (p. 136)
ü Pode-se
formular a teoria do consenso da seguinte forma: “uma crença é verdadeira
quando a minha comunidade intelectual concorda que este é o caso.” (p.136)
4.
Teoria
pragmática
ü Para
o pragmatismo, verdadeiro é aquilo que “é considerado útil, o que é bom para a
nossa vida. Identifica-se verdade com utilidade, vantagem ou oportunidade.” (p.
136)
ü “A
idéia fundamental do pragmatismo é que a essência dos objetos e das pessoas se
expressa em seu comportamento e em suas ações, sendo determinada a partir dos
efeitos.” (p.136)
ü Uma
objeção se apresenta quando se pergunta: a) o que é bom, b) quais são os
efeitos dessa ou daquela crença.
Ü “Cada
uma dessas teorias mostra-se insuficiente. Cada qual mostra aspectos
importantes, mas parciais.” (p.137)
Ü “A
verdade constitui uma relação multidimensional entre proposição e realidade
(teoria da adequação), com outras proposições (teoria da coerência) e a
comunidade dos cognoscentes (teoria do consenso).” (p.138)
Fonte: ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento e Teoria da Ciência. São Paulo:
Paulus, 2005.