MONDIN, Battista. O homem quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. Trad. R. Leal Ferreira e M. A. S. Ferrari. São Paulo: Paulus, 1980
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Considerar o homem como ser
de liberdade é reconhecer que ele reivindica para si autonomia. Por autonomia
se entende que o homem se sente responsável por seus atos e se percebe
independente das pressões vindas do exterior e do interior. (MONDIN, 1980, p.
111).
O termo liberdade é de
difícil precisão, entretanto, há núcleo comum nos diversos conceitos que é a
ideia de ausência de constrangimento. Os constrangimentos podem ser de
diferentes tipos e, a depender deles, se tem diversas formas de liberdade.
Assim, é possível falar em liberdade física, psicológica, política, moral e
liberdade social. (MONDIN, 1980, p. 112).
O problema da liberdade não
foi investigado satisfatoriamente pelos antigos por três razões fundamentais:
a) de modo geral a cultura grega considerava que todas as coisas estão sujeitas
ao destino; b) o homem como parte da natureza, está sujeito às leis gerais que
governam o mundo e c) o homem está preso às engrenagens da história em seu
movimento cíclico. (MONDIN, 1980, p. 113).
No pensamento cristão, a
liberdade é sobretudo uma relação entre o homem e Deus, pois, a natureza e a
história encontram-se a serviço da Previdência Divina. A questão da liberdade
passará a problematizar a possibilidade do livre-arbítrio diante da Previdência
Divina.
Na Modernidade, a perspectiva
antropocêntrica passa a substituir a teocêntrica e a liberdade será
problematizada a partir das relações da consciência com as outras faculdades da
razão, com os outros indivíduos, com a sociedade e o Estado. Predomina o
problema da liberdade associado à ideia de autonomia humana. (MONDIN, 1980, p.
113).
O período contemporâneo
problematiza a liberdade sobretudo do ponto de vista social. Assim, a liberdade
é considerada a partir da relação que estabelece a criação das forças sociais,
criadas pelo próprio homem e voltando-se contra ele.
Com relação ao problema da
liberdade há quem prediga que o homem não é livre: esta é a perspectiva
determinista. O determinismo extrínseco, vê a condição de negação da liberdade
como exterior ao homem que não possui liberdade em função de causas como o
fado, o destino, os demônios, etc. É denominado também de determinismo
mitológico. Um segundo tipo de determinismo extrínseco, é o teológico, para
quem de modo semelhante ao primeiro, o homem não é livre em razão da
Previdência Divina, ou seja, “a onipotência de Deus não deixa espaço nenhum
para o exercício da liberdade humana.” (MONDIN, 1980, p. 114).
Outro tipo de determinismo
com suas variantes, é o determinismo intrínseco. As diversas formas deste tipo
de determinismo, fundamentam a ausência de liberdade na própria condição de
existência do ser humano. Pode-se, então, falar de determinismo fisiológico,
sociológico, psicológico, metafísico e político. Assim, a vontade é reação de
combinações físico-químicas do organismo, ou pela pressão exercida apela
sociedade e suas estruturas sobre o indivíduo, ou ainda a vontade é determinada
pelo intelecto e seus conhecimentos, ou como uma parcela da Vontade Suprema (a
natureza, por exemplo) e, por fim, submissão da vontade dos cidadãos ao à
vontade do soberano ou da classe governante. (MONDIN, 1980, p. 115).
Mas há quem negue a
perspectiva determinista afirmando, portanto, o indeterminismo para o qual o
home é livre. Do ponto de vista gnosiológico, há duas vertentes: a postulatória
que afirma a liberdade, mas ao mesmo tempo a impossibilidade de demonstração
teorética de tal verdade (é a perspectiva defendida por Kant, por exemplo), e a
postura assertória que defende a posição de que o homem é livre e é possível
aduzir provas decisivas de tal liberdade (posição defendida por Aristóteles,
Locke, Agostinho, e outros). (MONDIN, 1980, p. 115).
Há também a perspectiva
ontológica que apresenta duas explicações básicas: a explicação essencialista,
que defende que a liberdade é qualidade essencial do ser humano, embora não
seja a sua própria essência, e a existencialista, que defende que “a liberdade
constitui a própria essência da natureza humana.” (MONDIN, 1980, p. 115).
Battista Mondin (1980, p. 115),
diante de tantas explicações sobre a liberdade humana, considera que “a solução
mais fidedigna” é a que “pode demonstrar que o homem é livre e que a liberdade
mesmo não se identificando com a natureza humana, faz parte de sua essência.
(MONDIN, 1980, p. 115).
O problema da linguagem
Muitas são as definições sobre o ser do homem: ele é racional, é livre, é ser de moralidade e eticidade, é ser de trabalho e cultura, etc. A estas definições, acrescenta-se a que o caracteriza como ser de linguagem, como ser falante: homo loquens. A propriedade de falar distingue nitidamente o ser humano dos demais seres da natureza.
A linguagem, a palavra permite ao ser humano falar de tudo e tentar explicações para tudo, dos problemas internos da mente, aos problemas externos da natureza e da sociedade. Ela permite a acumulação do conhecimento proporcionando um maior poder de intervenção e de aprimoramento de si, da sociedade e até da natureza. Entretanto, este conhecimento também pode ser utilizado em sentido inverso, de modo destrutivo. Deste modo, a linguagem pode promover tanto a liberdade quanto a opressão. (MONDIN, 1980, p. 136-137).