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quarta-feira, 5 de março de 2025

A ética no helenismo – Estoicismo, Epicurismo e Cinismo

A ética no helenismo – Estoicismo, Epicurismo e Cinismo

Prof. Me José Rogério de Pinho Andrade


    A ética no período do helenismo foi marcada pela busca por uma vida boa e feliz em meio às transformações sociais e políticas que resultaram da expansão do império de Alexandre, o Grande. A dissolução das antigas cidades-estado gregas e a criação de vastos impérios multiculturais trouxeram a necessidade de novas respostas filosóficas sobre como viver de forma virtuosa em um mundo em constante mudança. Nesse contexto, três grandes correntes éticas se destacaram: o estoicismo, o epicurismo e o cinismo, cada uma com suas próprias respostas para as questões existenciais e morais.
    O estoicismo, fundado por Zenão de Cítio no século IV a.C., oferecia uma ética centrada na razão e na virtude. Os estoicos acreditavam que a felicidade residia na vida conforme a natureza, o que significava viver de acordo com a razão, que é a característica distintiva dos seres humanos. Para os estoicos, a virtude era o único bem verdadeiro, e tudo o que estava fora do controle do indivíduo – como riqueza, saúde e status – era indiferente, não afetando a felicidade verdadeira.
    Os principais pensadores estoicos foram Zenão, Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Esses filósofos defendiam que a chave para uma vida feliz era a apatia (apatheia), ou seja, a ausência de paixões descontroladas que poderiam perturbar a tranquilidade da mente. A aceitação do destino (fatum) e a prática da autossuficiência eram centrais na ética estoica. A máxima estóica de que "não é o que acontece com você, mas como você reage a isso" reflete a importância da atitude racional e serena diante dos acontecimentos.
    O epicurismo, fundado por Epicuro no final do século IV a.C., focava-se na busca do prazer como o bem supremo da vida. No entanto, o prazer, para os epicuristas, não era entendido como hedonismo descontrolado, mas sim como a ausência de dor (ataraxia) e perturbação mental. Epicuro ensinava que o prazer verdadeiro era alcançado por meio da moderação, do cultivo de amizades e da reflexão filosófica.
    Epicuro e seus seguidores, como Lucrécio, distinguiam entre prazeres físicos e prazeres mentais, sendo os últimos superiores, pois ofereciam maior durabilidade e menos risco de causar sofrimento. A ética epicurista pregava a redução dos desejos e a eliminação dos medos, especialmente o medo da morte e dos deuses, que segundo Epicuro, eram irracionais. Para ele, "a morte não é nada para nós", pois quando estamos vivos, a morte não está presente, e quando estamos mortos, não experimentamos nada.
    O cinismo, iniciado por Antístenes, discípulo de Sócrates, foi uma filosofia que se destacou pela sua crítica radical às convenções sociais e aos valores materialistas. No período helenístico, o cinismo ganhou força principalmente com Diógenes de Sinope, que defendia uma vida em total consonância com a natureza, rejeitando todas as formas de luxo e convenção social.
    Os cínicos acreditavam que a felicidade era alcançada pela total independência dos bens externos e pela rejeição dos desejos artificiais criados pela sociedade. Para Diógenes, a verdadeira liberdade estava em viver de maneira autossuficiente, sem depender das normas impostas pelas instituições e pela cultura. Ele pregava que a virtude era a única riqueza verdadeira, e o estilo de vida cínico buscava a simplificação radical da vida, com ênfase na frugalidade e no desprezo pelos valores sociais tradicionais.
    As éticas do estoicismo, do epicurismo e do cinismo representaram diferentes caminhos para a felicidade no período helenístico, todas respondendo à inquietação filosófica em relação às mudanças políticas e sociais. Enquanto os estoicos buscavam a felicidade por meio da virtude e do controle das paixões, os epicuristas viam o prazer moderado como o caminho para a ataraxia, e os cínicos propunham a libertação dos desejos e convenções sociais como a via para a autossuficiência e a liberdade. Essas correntes éticas influenciaram profundamente o pensamento ocidental posterior, oferecendo reflexões sobre como viver de forma virtuosa e feliz em um mundo de incertezas.

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