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terça-feira, 20 de março de 2012

A "Razão" dos Iluministas.


A "Razão" dos Iluministas
José Rogério de Pinho Andrade

Por Iluminismo moderno entende-se o período que vai dos últimos decênios do séc. XVII aos últimos decênios do séc. XVIII. Ele é designado muitas vezes simplesmente Iluminismo ou Século das Luzes.
O Iluminismo é entendido como a linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a razão como crítica e guia a todos os campos da experiência humana. Ele é compreendido a partir da relação de três aspectos diferentes e conexos:
1.     Extensão da crítica a toda e qualquer crença e conhecimentos, sem exceção;
2.     Realização de um conhecimento, que por estar aberto à crítica, inclua e organize os instrumentos para a sua própria correção;
3.     Uso efetivo, em todos os campos, do conhecimento assim atingido, com o fim de melhorar a vida privada e social de todos os homens.
Como filosofia hegemônica do século XVIII na Europa, o Iluminismo consiste em um articulado movimento filosófico, pedagógico e político. Não era tanto um sistema doutrinário, mas muito mais um movimento em cuja base está a confiança na razão que em seu desenvolvimento representa o progresso da humanidade e a libertação em relação aos vínculos cegos e obscuros da tradição, às amarras da ignorância, da superstição, do mito e da opressão.
Para os Iluministas, e mais tarde para o próprio Kant, somente o crescimento de nossa consciência pode libertar nossas mentes de sua servidão espiritual aos vários tipos de erros e prejulgamentos.
A característica fundamental do Iluminismo é uma decidida confiança na razão humana, uma confiança pautada em seu uso crítico voltado para a libertação em relação aos dogmas metafísicos, aos preconceitos morais, às superstições religiosas, às relações desumanas entre os homens e às tiranias políticas.
O Iluminismo adota a confiança na razão estabelecida na postura cartesiana, mas, por outro lado, estabelece limites a esse poder da razão. A Razão iluminista não é uma posse de verdades eternas, nem de ideias inatas, mas é a força da mente humana compreendida como condição para alcançar a verdade e como caminho para a verdade. O fundamento de tal ordem racional é o empirismo inglês de John Locke. Trata-se de uma razão limitada à experiência e controlada pela experiência. O paradigma da razão iluminista é a física de Newton e o seu uso é o uso público.
A razão dos iluministas não considera excluído nenhum campo de investigação: ela é a Razão que diz respeito à natureza e, ao mesmo tempo, ao homem. A atitude crítica própria do Iluminismo se manifesta em sua resoluta rejeição à tradição, a recusa em aceitar a autoridade de tradição e de reconhecer nela qualquer valor independente da razão. A razão iluminista entende que o homem não está reduzido à razão, mas tudo aquilo que lhe diz respeito  pode ser indagado através da razão: princípios do conhecimento, comportamentos éticos, estruturas e instituições políticas, sistemas filosóficos e crenças religiosas.
Mesmo não sendo muito original quanto ao seu conteúdo, que boa parte lhe vem do século anterior, a originalidade filosófica do Iluminismo está em seu crivo crítico de tais conteúdos e no uso que pretende fazer deles, tendo em vista a melhoria do mundo e do homem que habita neste mundo.
O Iluminismo sempre esteve ligado à atitude empirista e contrário aos sistemas metafísicos, assim, a atitude cética e até mesmo irreverente é um dos seus traços essenciais, uma filosofia que pode ser vista como um grande processo de secularização do pensamento. A filosofia iluminista é uma filosofia do deísmo (religião racional e natural; é tudo aquilo e somente aquilo que a razão humana pode admitir), pois que a este esteve ligado muitos filósofos empiristas.
A razão dos deístas admite:
1.     A existência de Deus;
2.     A criação e o governo do mundo por Deus;
3.     A vida futura, em que se recebe a paga pelo bem e pelo mal.
Se somente estas são as verdades religiosas que a razão pode alcançar, verificar e aceitar, então os conteúdos, os ritos, as histórias sagradas das religiões positivas (tradicionais) são unicamente superstições, fruto do meso e da ignorância. Cabe à razão iluminar as trevas das religiões positivas, mostrando a sua variedade, analisando suas origens e seus usos sociais e, deste modo, evidenciando a sua desumanidade absurda.
Por outro lado, a crença em Deus e a religião também foram combatidas como obstáculo ao progresso do conhecimento, como instrumento de opressão e geradores de intolerância, como causa de princípios éticos equivocados e desumanos e como fundamento de péssimas organizações sociais. Assim, vê-se o lado ateu e materialista do Iluminismo defendendo a necessidade de ter a coragem para libertar-se dos vínculos da religião, renunciar a todos os deuses e reconhecer os direitos da natureza.
Por fim, o Iluminismo não é somente uso crítico da razão é também o compromisso de utilizar a razão e os seus resultados nos vários campos de pesquisa para melhorar a vida individual e social do homem. É ele o responsável por duas concepções fundamentais para a cultura moderna e contemporânea: a concepção de progresso e de tolerância.
A tolerância religiosa além de pregar a convivência pacífica das várias confissões religiosas, também impede que a religião se torne um instrumento de governo. Contrário aos sistemas metafísicos e representante de uma religiosidade e uma moralidade racionais e leigas, o racionalismo iluminista estabelece a Razão como fundamento das normas jurídicas e das concepções do Estado. Fala-se, deste modo, em religião natural, em moral natural e, também, em direito natural, isto é, o natural significa aquilo que não é sobrenatural, significa o que é racional.
Por outro lado, o compromisso de transformação, próprio do Iluminismo, leva à concepção da história como progresso, isto é, como possibilidade de mudar para melhor o ponto de vista do saber e dos modos de vida do homem. Deste modo, esta ideia serviu para deletar a de fatalismo histórico, o que impedia qualquer iniciativa de transformação.
As ideias iluministas não penetraram nas massas populares da Europa do século XVIII. Elas tiveram recepção nas camadas intelectuais e entre a burguesia, sendo as massas indiferentes à sua influência. Os meios utilizados para acelerar a circulação das ideias iluministas foram:
a)     As Academias;
b)    A maçonaria;
c)     Os salões;
d)    A Enciclopédia;
e)     O epistolário;
f)     Os ensaios;
g)    Os diários e os periódicos.


sábado, 3 de março de 2012

Por que a Finlândia chegou ao 3º lugar no ranking do PISA em 2009?


Por que a Finlândia chegou ao 3º lugar no ranking do PISA em 2009?
José Rogério de Pinho Andrade

 O PISA (Programme for International Student Assessment - Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é aplicado de forma amostral segundo os critérios definidos pelo Consórcio Internacional contratado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Humano (OCDE). O perfil dos participantes é o de jovens na faixa de 15 anos de idade matriculados no 8º ano (antiga 7ª série) em diante, até o final do Ensino Médio. Segundo o site do INEP (www.inep.gov.br), em 2009 no Brasil participaram 950 escolas e 20.127 (vinte mil e cento e vinte sete) alunos.
Em entrevista ao jornalista Leonardo Cazes de “O Globo”, o finlandês Pasi Sahlberg autor do livro “Finish Lessons: what can the world from educational change in Finland? (algo como, Lições Filandesas: o que o mundo pode aprender com a mudança educacional na Finlândia?) e também diretor de um centro de estudos vinculado ao Ministério da Educação daquele país, apresenta algumas das principais razões para o sucesso educacional de lá. São elas:

1. Maior preocupação com a qualidade dos professores e dos ambientes de aprendizado.
2. Todo sistema escolar é financiado pelo Estado, a educação básica é pública.
3. Igualdade de oportunidade de acesso a uma educação de qualidade e aumento do nível educacional da população.
4. Compromisso da sociedade pela igualdade de acesso a uma educação de qualidade.
5. Focar as escolas para que elas possam ajudar as crianças a ter sucesso; valorização do bem-estar das crianças.
6. Educação primária de qualidade; ênfase no aprendizado da primeira infância.
7. Formação de professores em universidades de ponta.
8. Política Pública Educacional estável (a da Finlândia não muda em seus princípios desde 1970).
9. Ver as crianças como indivíduos com necessidades e interesses diferentes e não como apenas futuros membros do mercado.
10. “Reformas guiadas pelo mercado, com foco em competição e privatização não são a melhor maneira de melhorar a qualidade e a equidade na educação”.
11. Reconhecer que “professores são profissionais de alto nível, como médicos ou economistas” e precisam de uma sólida formação teórica e treinamento prático.
12. “O salário dos professores deve estar no mesmo patamar de outras profissões com o mesmo nível de formação no mercado de trabalho”.
13. Controle dos professores que entram para a profissão e garantia de que somente os melhores e mais comprometidos continuem.
14. O foco é a pedagogia entre as pessoas, a tecnologia é ferramenta complementar.
15. Não há avaliações de desempenho periódicas e padronizadas de alunos e professores.

Como o autor reforça na entrevista, não há fórmula mágica para a transformação da educação, mas há alguns caminhos razoáveis.
Bem que poderíamos copiar alguns destes itens para o modelo educacional brasileiro, em especial aqueles que tratam de valorizar os professores, a começar por seus salários.

Fontes: