Por: José Rogério de Pinho Andrade.
A Bíblia
é de fato um conjunto de livros fantásticos e interessantíssimos! Terminada a
leitura do livro “LEVÍTICO” aprendi que o ideal proposto ao povo liberto por Deus
da escravidão do Egito, basicamente consiste em cultuar o Deus libertador,
reconhecendo seus dons por meio de sacrifícios minuciosamente explicados, servi-lo
por intermédio dos sacerdotes e comungar com Ele através do perdão procurando “ser
santo como o próprio Javé é santo”. (Lv. 19, 2).
A santidade
consiste em oferecer cultos ao Deus libertador e, fundamentalmente, em
viver a justiça e o amor de Deus (Javé) nas relações e práticas concretas,
traduzindo-se no mandamento fundamental de toda a ética: “ame o seu próximo
como a si mesmo”. (Lv. 19, 18). A lei de Santidade estabelece interdições e
deveres que vão da proibição de culto a deuses falsos (Lv. 17, 7) e ao deus da
morte (Lv. 20, 1-7), passando pelas uniões sexuais (Lv. 18, 1-30) e pela
ingestão de determinados alimentos considerados sagrados (Lv. 22. 1-33), dentre
outras condutas.
Dentre
os deveres, a lei de Santidade (Lv. 19, 1-37) estabelece a obrigação de
respeitar a família (Lv. 20, 8-21) e de guardar e colocar em prática a Lei (Lv.
20, 22-27) e da obrigação que têm os sacerdotes de manterem-se santos e puros (Lv.
21, 1-24).
Minha atenção
foi especialmente atraída pela dedicação que o texto bíblico dá ao trabalho e à
necessidade de descanso (ócio), ambos considerados sagrados, principalmente
pela proclamação das assembleias sagradas, as festas do ano (Lv. 23, 1-44): o texto
é prodigioso na determinação de períodos de descanso, pois, além dos Sábados,
há pelo menos sete dias de descanso associados a seis dias de festas sagradas.
Quanto
à justiça, a lei aparenta ser dura, principalmente quanto à agressão física ao
outro, entretanto, também é justa, pois estabelece que: “se alguém ferir o seu
próximo, deverá ser feito para ele aquilo que ele fez para o outro: fratura por
fratura, olho por olho, dente por dente”. (Lv. 24, 19).
Correndo
o risco da heresia, em uma leitura associada ao contexto político atual, para
alguns o texto poderia ser associado a algum tipo de “manifesto esquerdista-comunista”,
principalmente quando afirma que “todos têm o direito à terra e à casa própria”
(Lv. 25, 23-34) e que é “proibido se aproveitar da miséria alheia” (Lv. 25,
35-42), bem como é proibido “escravizar o povo” (Lv. 25, 44-55).
Esplendorosamente
rico em detalhes sobre a conduta humana e sobre a promessa de Deus para os
homens, o livro bíblico “Levítico” está sujeito (como todos os demais livros,
bíblicos ou não) às apropriações inadequadas feitas pelos diversos interesses
ideológicos próprios da condição política e moral do ser humano. Para mim,
entretanto, foi uma aprendizagem a mais e, como sempre oriento meus alunos,
pensar e saber mais com a leitura dos clássicos é (ou deveria ser) uma
obrigação de todos nós. Nada mais clássico do que a Bíblia!
Referência: