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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Nos braços de Hipnos

Sono,
Sempre nos afeta,
Nos alerta do cansaço,
Nos obriga o descanso,
Nos faz dormir e sonhar,
Dá-nos uma realidade e nos retira de outra.
Herói ou vilão,
Sempre invencível!
Me venceu!

Os princípios morais e sociais em que se inspiram os habitantes de Utopia

José Rogério de Pinho Andrade

Os princípios basilares da convivência entre os Utopianos são muito simples. Thomas More influenciado pelo otimismo humanista encontrava-se convencido de que bastava seguir a sã razão e as mais elementares leis da natureza, que estão em perfeita harmonia com a razão, para acabar com os males que afligem a sociedade.
Deste modo, Utopia não representava um programa social a ser realizado. Consistia sim, em um conjunto de princípios destinados a terem função normativa e que apresentavam os males da época e indicavam os critérios com os quais deveriam ser curados.
Além disto, em Utopia todos os cidadãos são iguais entre si. Não há diferenças de renda nem de status social. Os habitantes da ilha, se substituem em rodízio equilibrado nos trabalhos da agricultura e do artesanato, assim, não havendo a divisão do trabalho, se impede que renasçam também as divisões sociais.
O trabalho não é massacrante como era comum naquela época. A jornada era máxima de seis horas de modo que se pudesse dispor de tempo livre para o lazer e outras atividades.
O culto religioso é estabelecido por sacerdotes dedicados a ele e realizado em lugar próprio. Também era garantido àqueles que nascessem com dotes especiais aos estudos, os literatos, um lugar especial em que pudessem desenvolver suas aptidões e estudos.
Os habitantes de Utopia são pacíficos, seguem prazeres sadios, admitem a liberdade religiosa e de culto, honram a Deus de diferentes modos e sabem se aceitar reciprocamente nessas diversidades.
Com a eliminação do dinheiro e da propriedade privada, os Utopianos também eliminam as adversidades que surgem em função da avidez que despertam nos homens.
Rogério Andrade

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O imbecil Juvenil - texto emprestado.

O Imbecil Juvenil
Olavo de Carvalho

Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentirem-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaquinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.
Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade.
É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação - literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.
Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.
Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.
Publicado pelo Jornal da Tarde

domingo, 12 de outubro de 2008

Que menino lindo!!


Vejam como está lindo o príncipe do papai!!

Abraços filosóficos,

Rogério Andrade

Fé e felicidade em Belém!


Não é a primeira vez que testemunho a fé do povo brasileiro e a cada vez me surpreendo! Novamente tive a oportunidade de presenciar esta fé na cidade de Belém com a passagem do Círio de Nazaré.

Este ano foi especial porque a procissão coincidiu com o dia da criança e neste ano eu pude comemorar o dia da criança como pai. Mais ainda, o nosso (meu e de Minha Rainha) bebê, nosso Príncipe completou oito meses de vida.

Abraços filosóficos,

Rogério Andrade

sábado, 6 de setembro de 2008

Dever, liberdade e justiça

Na discussão sobre a conduta moral e sobre o seu fundamento três problemas apresentam-se como importantes, a saber, o problema do dever, o da liberdade e o da justiça. Distintos entre si estabelecem correlações um com o outro.
Começaremos a apresentação sobre a teoria do Dever.
Uma primeira noção de dever a entende como a ação segundo uma ordem racional ou uma norma. Em seu primeiro significado, essa noção remonta ao pensamento estóico e está associada à idéia de qualquer ação ou comportamento, dos homens ou dos animais e plantas, que se conforme à ordem racional do todo. Esta ordem racional é o destino, o divino, a providência ou Deus. Assim, o caráter próprio do dever é a conformidade com a vida natural, isto é, o dever pertence a uma doutrina ética que funda a norma no “viver segundo a natureza”, numa vida em conformidade com uma ordem racional.
No pensamento aristotélico a doutrina do dever foi substituída pela doutrina das virtudes e no desejo natural da felicidade e faz referência à ordem racional do todo. Também na ética medieval será ignorada a doutrina do dever e se concentrará na teoria das virtudes, dos hábitos racionais adequados à consecução da felicidade e da bem-aventurança ultraterrena.
A doutrina do dever só voltará a predominar por volta do século das luzes com o pensamento de Immanuel Kant. Em sua ética da normatividade, o conceito estóico do dever é modificado de conformidade à ordem racional do todo, em conformidade com a lei da razão. Para ele, o dever é a ação cumprida unicamente em vista da lei e por respeito à lei.
Diz Kant: “uma ação realizada por dever tem seu valor moral não no fim que deve ser alcançado por ela, mas na máxima que a determina; ela não depende, portanto, da realidade do objeto da ação, mas somente do princípio da vontade segundo o qual essa ação foi determinada, sem relação com nenhum objeto da faculdade de desejar.”
O dever é, em Kant, “a necessidade de realizar uma ação unicamente por respeito à lei”, entendendo-se a palavra respeito como a atitude que não leva em conta quaisquer inclinações naturais. O dever é a ação objetivamente prática na qual coincidem a máxima segundo a qual a vontade se determina e a lei moral. Neste sentido, moralidade e dever coincidem, pois agir moralmente é agir por dever, enquanto agir de acordo com o dever representa a ação legal.
Na ética contemporânea, a doutrina do dever continua ligada à doutrina da ordem racional necessária ou norma (ou conjunto de normas) apta a dirigir o comportamento humano.
Nosso segundo ponto a ser apresentado diz respeito ao tema da liberdade.
A liberdade é a condição daquele que é livre e entende-se como a capacidade de agir por si mesmo. Deste modo, liberdade é autodeterminação, independência e autonomia. Diferente do que se pode pensar comumente, ser livre não é estar isento de quaisquer determinações, mas sim condicionar-se por suas próprias determinações. O sujeito se torna livre quando ele tem em seu comportamento uma orientação ou determinação auto-imposta. Os condicionamentos estão no próprio agente na medida em que se obriga a determinados atos ou comportamentos, quando o sujeito impõe a si mesmo as normas de sua conduta, quando ele é o fundamento de seus atos.
Fala-se em diversas formas de liberdade, cada uma atendendo a uma necessidade existencial do sujeito. Assim, diz-se que há a liberdade política, a liberdade em seu sentido ético, em seu sentido filosófico, liberdade de pensamento, liberdade de crença, etc.
Em seu sentido político a liberdade caracteriza-se pela capacidade de o individuo exercer a sua cidadania dentro dos limites sócio-políticos, ou seja, é a liberdade de exigir os seus direitos definidos e estabelecidos em lei, mas de cumprir os seus deveres, também definidos e estabelecidos em leis. De modo mais específico é a condição de, em uma sociedade, o individuo exercer os seus direitos individuais, como direito de votar e ser votado, direito à liberdade de opinião e de culto, etc. Como se vê expresso na Declaração dos Direitos do Homem de 1789 “a livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão deve portanto poder falar, escrever, imprimir, livremente, devendo contudo responder ao abuso dessa liberdade nos casos determinados pela Lei.”
Compreendendo-as em seu sentido ético, a liberdade trata-se do direito de escolha pelo individuo de seu modo de agir, independente de qualquer determinação externa, isto não quer dizer que o individuo seja livre para fazer o que bem entende, mas tão somente que seu ato se justifica em sua condição mesma de ação, ou seja, na consciência deliberada em agir. O ato é praticado por uma decisão voluntária e consciente, não sendo uma determinação de quaisquer condições externas ao próprio sujeito. Como nos ensina Descartes “a liberdade consiste unicamente em que ao, afirmar ou negar, realizar ou enviar o que o entendimento nos prescreve, agimos de modo a sentir que, em nenhum momento, qualquer força exterior nos constrange.”
Vê-se que do ponto de vista filosófico a discussão sobre a liberdade apresenta três significados fundamentais, correspondentes a três concepções que se sobrepuseram ao longo da sua história e que podem ser caracterizadas da seguinte maneira: 1ª) liberdade como autodeterminação ou autocausalidade, segundo a qual a liberdade é ausência de condições e de limites, 2ª) liberdade como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da precedente, a autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence (Mundo, Substância, Estado) e 3ª) liberdade como possibilidade ou escolha, segundo a qual a liberdade é limitada e condicionada, isto é, finita.
Para a primeira concepção, de liberdade absoluta, incondicional, é livre aquilo que é causa de si mesmo. Sua primeira expressão encontra-se em Aristóteles para quem o ato voluntário é semelhante ao infinito, pois é causa de si mesmo. Essa noção de “princípio de si mesmo” é a definição da lei incondicionada.
Esta noção de liberdade como autocausalidade ou autodeterminação é o fundamento do conceito de liberdade como necessidade, para quem a liberdade consiste não só em ter em si a causa dos próprios movimentos, mas também em ser esta causa. Tal noção atinge todos os seres, mas privilegia o homem, pois a causa do movimento humano é aquilo que o próprio homem escolhe como móbil, enquanto juiz e árbitro das circunstâncias externas. Tal conceito está presente em todas as formas éticas de indeterminismo. Em geral o determinismo consiste em julgar universal o alcance do princípio de causalidade em sua força empírica e, portanto, em negar a causalidade autônoma.
A liberdade como autocausalidade encontra o seu equivalente político na concepção de liberdade como ausência de condições ou regras e recusa de obrigações, isto é, numa concepção de anarquia, em seu sentido mais amplo. Aqui, a liberdade é entendida como recusa de medidas, como ausência de normas.
A segunda concepção de liberdade a identifica com a noção de necessidade. Mantendo laços de identidade com a primeira concepção, entende a liberdade como causa de si próprio, no entanto, ela não é atribuída à parte, mas ao todo, isto é, não é atribuída ao individuo, mas à ordem cósmica ou divina, à Substância, ao Absoluto, ao Estado.
Assim, o homem é livre na medida em que manifesta a necessidade deste todo. Neste concepção, negar que o homem como tal é livre e afirmar que ele é livre enquanto manifestação da autodeterminação cósmica ou divina são a mesma coisa. A liberdade seria o super-determinismo de um plano do ser em relação aos outros e, neste caso, a liberdade, a autodeterminação pertence à situação existencial total cuja expressão é o eu, a parte, o indivíduo.
A esta totalidade (a Substância, o Divino, o Ser, o Estado) atribui-se um poder de autocausalidade ou autocriação que é um poder de coerção sobre os indivíduos, considerados como manifestação dele, como uma parte dele. Vale lembrar que este poder de manifestação também se dá de modo absoluto.
A terceira concepção de liberdade a entende como a possibilidade, como escolha motivada ou condicionada, isto é, como medida de possibilidade. Neste sentido, ser livre não é se identificar com uma totalidade, mas possuir, em determinado grau ou medida, certas possibilidades de escolha. Esta, por sua vez, não é atribuída à divindade, não é absoluta, é sim, limitada pelas possibilidades objetivas, pelos modelos de vida disponíveis, pois o seu autor é o próprio individuo.
Deste modo, a liberdade é delimitada, em primeiro lugar, pelo grau das possibilidades objetivas, sempre em número mais ou menos restrito. Em segundo lugar, sua delimitação decorre da ordem de motivos da escolha. Tal conceito de liberdade é uma forma de determinismo, mesmo que não o seja de necessarismo, pois admite a determinação do homem por parte das condições a que sua atividade corresponde, sem admitir que a partir de tais condições a escolha seja infalivelmente previsível.
Esquecido na antiguidade e no medievo devido à compreensão de liberdade como autocausalidade, quando reapareceu na modernidade, o conceito de liberdade como escolha condicionada, assumiu, em oposição á noção de livre-arbítrio, a forma de negação da liberdade de querer e de afirmação da liberdade de fazer. Há, então, uma liberdade de fazer, não uma liberdade de querer.
Esta concepção, muito bem adotada por Locke em sua teoria política, entende que a liberdade do homem em sociedade consiste em não estar sujeito a outro poder legislativo além do estabelecido por consenso no Estado. Assim, a liberdade consiste na possibilidade de escolhas delimitadas por leis estabelecidas por um poder para isto designado pelos cidadãos. Duas são então, as condições de sua existência: a primeira é a existência de normas que circunscrevem as possibilidades de escolha dos cidadãos e a segunda é a possibilidade de os próprios cidadãos fiscalizarem o estabelecimento destas normas.
O conceito de justiça é o terceiro elemento de discussão neste tópico. Diretamente indissociável dos precedentes, mas distinto deles, a justiça pode ser entendida, em geral como a ordem das relações humanas ou a conduta de quem se ajusta a essa ordem. Deste modo, distinguem-se dois significados principais: o primeiro como conformidade da conduta a uma norma e o segundo como eficiência de uma norma (ou de um sistema de normas).
No primeiro significado, a justiça é a conformidade de um comportamento (ou de uma pessoa em seu comportamento) a uma norma, sendo esta estabelecida pelo próprio homem ou por uma entidade substancial ou absoluta. Esta noção de justiça como conformidade à norma é uma constante mesmo naqueles que se opõem ao conceito tradicional de justiça.
Quer se entenda a norma como norma de direito natural, quer como norma moral ou de direito positivo, a justiça será sempre entendida como conformidade do comportamento à norma.
No segundo significado a justiça não se refere ao comportamento ou à pessoa, mas à norma. Aqui, expressa a noção de eficiência da norma, isto é, a sua capacidade de possibilitar a relações humanas. Ela não passa de condição para possibilitar a convivência e a ação conjunta dos homens, ou ainda garantir aquilo que se considera como objetivo fundamental, ou seja, como valor absoluto.
Os fins aos quais se recorreu com mais freqüência são: a felicidade, utilidade, a liberdade e a paz. Se tomarmos a felicidade como fundamento, definem-se como justas as coisas que propiciam ou mantém a felicidade ou parte dela na comunidade política. A consideração da utilidade como fundamento tem a característica de eliminar o caráter de fim ultimo ou valor absoluto, levando a considerá-la como solução de determinadas situações humanas. A identificação de justiça com liberdade realizada por Kant considerará a ilustração como condição que derivará da progressiva eliminação dos obstáculos opostos à liberdade da espécie humana.
A consideração da paz como critério de justiça de uma ordenação normativa tende a julgar a eficiência das normas com base em sua funcionalidade negativa, ou seja, em sua capacidade de evitar conflitos. Do ponto de vista da Teoria Geral do Direito, tal critério tende a ser considerado restrito demais para julgar da eficiência das normas de direito. Assim, consideram-se dois outros critérios como fundamento de um juízo objetivo sobre ordenações normativas, o de igualdade como reciprocidade e a autocorrigibilidade.
Deste modo, os dois critérios podem conferir à palavra justiça um significado tão distante do ideal transcendente e da aspiração sentimental quando da justificação interessada das ordenações em vigor. Conclui-se que o emprego do conceito de justiça no segundo significado é o exercício do juízo, que deve ser possível para todos os homens livres sobre as ordenações normativas que os regem.
Rogério Andrade

Teorias da obrigação moral

I - As éticas teleológicas têm em comum o relacionar a nossa obrigação moral com as conseqüências de nossa ação, isto é, com a vantagem ou benefícios que podem trazer, quer para nós mesmos, quer para os demais. Tem como correntes principais o egoísmo ético e utilitarismo. Se considerarmos o bem pessoal, estaremos diante do egoísmo ético (“deves fazer o que te traz o maior bem, independentemente das conseqüências – boas ou más – que derivem para os outros”). Caso seja considerado o bem dos outros, sem implicar necessariamente na renúncia ao próprio bem, estaremos diante de alguma forma de utilitarismo (“faz aquilo que beneficie, fundamentalmente, os outros, ou o maior número de homens”).
A tese fundamental do egoísmo ético diz que cada um deve agir de acordo com o seu interesse pessoal, promovendo, portanto, aquilo que é bom ou vantajoso para si. O egoísmo ético fracassa na sua intenção de explicar os atos a favor do outro que não podem ser considerados como satisfação de interesse ou tendências egoístas.
A vantagem deste tipo de ética é a facilidade de determinar o próprio interesse, comparada com a dificuldade de determinar o que seria do interesse de todos, ou o que traria maior beneficio para todos.
Posturas típicas do egoísmo ético:
a) O indivíduo entende que as ações de todos devem convir com seu interesse.
b) O indivíduo age apenas segundo seu interesse individual.
c) O indivíduo crê que cada pessoa deve sempre agir de acordo com seu interesse próprio (egoísmo ético universal).
O problema com as duas primeiras posturas é que seriam benéficas apenas para um indivíduo e, com a terceira, é que se estivesse vigente, não comportaria enunciados de normas ou ações com validade universal.
Utilitarismo, por sua vez, assinala que cada indivíduo deve agir de forma a proporcionar o maior bem para todos os que o cercam, isto é, devemos fazer aquilo que traz resultados para o maior número de pessoas. Em cada situação concreta, deve-se determinar qual o efeito ou conseqüência de um ato possível e decidir-nos pela realização daquilo que pode trazer maior bem para o maior número.
O utilitarismo divide-se em:
a) Utilitarismo de ação: cada indivíduo deve analisar a situação particular na qual se encontra e descobrir qual a ação que trará o maior beneficio para todos os envolvidos.
b) Utilitarismo de regra: devemos agir segundo regras que determinam o maior bem ou a maior felicidade para todos a quem dizem respeito nossa ação.
II - Éticas deontológicas do grego déon (dever) quando não faz depender a obrigatoriedade de uma ação exclusivamente das conseqüências da própria ação ou da norma com a qual se conforma, ou seja, a análise das conseqüências de um ato ou comportamento não deve influir no julgamento moral sobre as ações ou as pessoas. O que é imoral ou moral decide-se com respeito a outros padrões que não sejam as conseqüências da ação.
Deontologia deriva do grego déon, o que é obrigatório e logos, ciência, teoria. Passou a designar o código moral das regras e procedimentos próprios a determinada categoria profissional.
Classificam-se as teorias éticas deontológicas em: a) do ato e b) da norma.
As teorias deontológicas do ato coincidem quando sustentam que o caráter específico de cada situação, ou de cada ato, impede que possamos apelar para uma norma geral a fim de decidir o que devemos fazer. Assim, é preciso “intuir’ como devemos operar em um caso determinado, ou decidir sem recorrer a uma norma, visto ela não poder nos indicar o que devemos fazer em cada caso concreto. Não havendo uma norma geral que sirva para nos orientar como devemos agir, em cada caso concreto o que importa é o grau de liberdade com que se age.
As teorias deontológicas da norma sustentam que o dever em cada caso particular deve ser determinado por normas que são válidas independentemente das conseqüências de sua aplicação.
Correntes principais das éticas deontológicas:
a) Intuicionismo moral: fundamenta-se nas crenças de que as pessoas são dotadas de um conhecimento imediato quanto ao que é correto ou não.
b) Ética do dever: inaugurada por Kant, pretende discriminar as regras do que é certo ou errado moralmente por meio do imperativo categórico, segundo a qual a ação é imoral se a regra da ação puder ser tomada da regra universal. Contudo, para que uma ação seja moral é preciso que, além da conformação à máxima externa, o móbil da ação seja o respeito à lei moral, e que não derive de sentimentos egoístas.
Rogério Andrade

Ética e Moral

Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são freqüentemente usados como sinônimos. Moral vem do latim mos, moris, que significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”, daí “costume”, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo aos costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de “costume”.
A demarcação entre o campo da ética e o da moral pode ser compreendida a partir da situação dos problemas que cabem a cada uma. Os problemas morais referem-se aos problemas práticos que se apresentam nas relações efetivas entre os indivíduos ou quando se julgam certas decisões e ações dos mesmos. Dizendo respeito às relações entre os indivíduos, os problemas morais exigem o estabelecimento de normas de conduta para regular o comportamento dos mesmos. Tais normas são aceitas intimamente e reconhecidas pelos indivíduos como obrigatórias, obrigatoriedade que nasce da adesão dos indivíduos a elas, pois compreendem que devem agir de uma maneira ou de outra, mas sempre pautados na orientação das normas.
Este comportamento prático-moral existe deste as sociedades mais primitivas e a ele sucedem reflexões, isto é, além de agir moralmente os homens estabelecem reflexões sobre o esse comportamento prático-moral tomando-o como objeto de seu pensamento. Deste modo, verifica-se a passagem do plano prático da moral para o plano da teoria da moral, ou seja, da moral vivida e efetiva para a moral reflexa e pensada. Instituída tal passagem, estamos no campo dos problemas teórico-morais ou éticos.
Se os problemas prático-morais são situados na ação efetiva, na escolha do modo adequado de agir, os problemas ético-morais são caracterizados por sua generalidade. Eles se referem à abstração de caráter teórico sobre os fundamentos das ações práticas. Sua tarefa é investigar o conteúdo do que seja o “bom”, e não determinar como deve agir o indivíduo na situação concreta para que a sua ação possa ser considerada boa.
Assim, poderemos tentar estabelecer uma compreensão conceitual daquilo que se entende por mora e daquilo que se entende por ética.
A moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou grupo de homens. Nesse sentido, o homem moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras do grupo. Isto é, em função da adequação ou não à norma o ato será considerado moral ou imoral.
A moral ocorre em dois planos: o normativo e o fatual e deste modo é que se compreende que o ato moral concreto, aquele efetivado pelos indivíduos e deve ter a sua essência procurada tanto num plano quanto no outro e daí a necessidade de se analisar o comportamento moral dos indivíduos a partir de seus atos concretos. Vejamos em que consiste o ato moral, qual a sua estrutura.
Um ato moral é sempre um ato sujeito à sanção dos demais, ou seja, é passível de aprovação ou de reprovação pelos demais de acordo com as normas morais estabelecidas. Assim nem todos os atos podem receber a qualificação moral, se a sua realização não pode ser evitada ou cujas conseqüências não se podiam prever, não pode ser qualificado como efetivamente um ato moral e não pode ser qualificado como moral ou imoral.
O ato moral implica em um motivo determinado. O quer dizer que o sujeito precisa agir de modo consciente de tal motivo, caso contrário não se pode qualificá-lo como um ato moral. Assim, vê-se que o motivo não é suficiente para a qualificação do ato.
Outro aspecto fundamental já apontado pelo anterior é que todo ato para ser qualificado como um ato moral precisa ser praticado de modo consciente e voluntário, isto é, se faz necessário a consciência do fim visado e a decisão de querer alcançá-lo, de realizá-lo.
Aspecto igualmente importante para a qualificação do ato moral é a consciência dos meios para realizar o fim escolhido e o seu emprego para obter o resultado pretendido.
Em suma, o ato moral é uma totalidade de diversos aspectos ou elementos: motivo, fins, meios, resultados, conseqüências objetivas.
Considerando a moral como o conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social, podemos perceber que ela é exterior e anterior ao indivíduo. Há, portanto, a moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de normas. O indivíduo ao nascer encontra as normas morais já estabelecidas e, ao longo de sua convivências com os demais, vais assimilando como suas tais normas e se conduzindo em referência a elas.
Contudo, a moral não se reduz à herança dos valores recebidos pela tradição, pela cultura. Assim, o homem, ao mesmo tempo em que é herdeiro, é criador de cultura, e só terá vida autenticamente moral se, diante da moral constituída, for capaz de propor a moral constituinte. Isto é, na medida em que assimila as normas, pode e deve fazer uma reflexão sobre os seus fundamentos procurando fundamentá-las, revê-las e adequá-las ao novo momento em que se vive e se encontra. Aceita-as não por uma imposição cultural, mas por uma decisão consciente de concordar ou não com elas. Assim, evidencia-se que a moral tem um caráter pessoal, isto é, embora seja definida pela coletividade, a sua permanência depende de uma aceitação consciente dos indivíduos.
Compreende-se ainda, que o comportamento moral não se estabelece como absoluto para todos os tempos e lugares, ele varia espacial e temporalmente, conforme as exigências das condições nas quais os homens se organizam ao estabelecerem as formas efetivas e práticas do trabalho e convivência. Evidencia-se assim, o caráter histórico e social da moral.
O termo Ética vem do grego ethike, de ethikos significando aquilo que diz respeito aos costumes. Podemos entender o termo, ainda, como parte da filosofia prática que tem objetivo elaborar uma reflexão sobre os problemas fundamentais da moral, mas fundada num estudo metafísico do conjunto das regras de conduta consideradas como universalmente válidas. Está, assim, mais preocupada em detectar os princípios de uma vida conforme a sabedoria filosófica, em elaborar uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça, a harmonia e sobre os meios de alcançá-las.
É, portanto, a disciplina que procura responder as questões: como e por que julgamos que uma ação é moralmente errada ou correta? Que critérios devem orientar esse julgamento?
Em sua investigação, a ética apresenta as seguintes dimensões: ética normativa, metaética e ética aplicada. A dimensão normativa é aquela que recorre ou à determinação da ação ou regra correta, ou à determinação mais ampla de um caráter moral. A metaética, por sua vez, investiga a natureza dos princípios morais, indagando se são objetivos e absolutos os preceitos defendidos pelas diversas teorias da ética, ou se são de fato inteligíveis, ou, ainda, se podem ser verdadeiros esses princípios éticos num mundo sem Deus. A ética aplicada é a dimensão investigativa que diz respeito à aplicação de princípios extraídos da ética normativa para a revolução de problemas éticos cotidianos.
A ética normativa divide-se em Teleológicas e Deontológicas. As éticas teleológicas determinam o que é correto de acordo com certas finalidades (télos) que se pretende atingir. As éticas deontológicas procuram determinar o que é correto segundo as regras e normas em que se fundamenta a ação.
rogério Andrade

Filosofar ou viver?

Dias desses, vendo à TV (na verdade mais ouvindo) enquanto me arrumava para ir ao trabalho, uma chamada de intervalo em um programa de entrevistas, que não sei bem o nome, me chamou a atenção por dizer algo como: “No próximo bloco: filosofar ou viver? Você saberá o que pensa... (o entrevistado).” Confesso que este não foi um programa que mereceu a minha maior atenção. Meu contato com ele foi mais o resultado de um zapping (não sei se é assim que se escreve, mas o que significa é mudar constantemente de canal com o controle remoto) comum em meu cotidiano televisivo do que uma audiência deliberada.
O que quero com isto? Pretendo comentar uma inquietação que se fez em mim a partir da frase que parecia problematizar: “Filosofar ou viver?”. Embora em dúvidas quanto à qualidade da discussão que o programa tenha estabelecido, coisa que não posso garantir pois não vi a continuidade do bloco após os comerciais, acredito na possibilidade de uma discussão filosófica sobre o tema.
A pergunta “filosofar ou viver?” é de cunho filosófico visto referir-se à uma inquietação sobre a própria vida ou sobre o próprio ato de filosofar. Ela nos remete à cantiga cantarolada pelo baiano Leãozinho a partir das palavras do poeta que diz que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Para o dilema, então, a arte já apresenta uma resposta, embora ele não se refira à arte, mas sim à filosofia. Se viver não é preciso, então a resposta nos leva ao navegar que, por sua vez, não se distingue tanto assim do filosofar. A opção pelo viver, de outro lado, nos remete necessariamente ao filosofar.
Senão vejamos: se alguém optar por viver, isto implica na necessária problematização sobre a vida por meio de indagações como: o que é a vida? Como se deve vivê-la? Poderíamos entendê-la sobre outros significados que não aqueles com os quais estamos acostumados? Ela, a vida, se encerra com a morte ou é apenas uma nova etapa? Que sentidos têm? Deste modo, ao se escolher viver, não se pode furtar ao filosofar, pois é por seu meio que a própria vida passa a ter sentido. A não ser que se viva como o samba canta: “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Mas, mesmo assim, há espaços para o filosofar, visto ainda ser possível perguntar filosoficamente para onde a vida leva ou quem é aquele que se deixa levar pela vida.
No caso de se ir diretamente ao ponto, ou seja, ao filosofar, aquele que opta por tal caminho se encontrará com a própria vida. Por meio do filosofar o viver só pode ser enriquecido e ampliado. É por tal atitude que a vida se esclarece em seus sentidos. As respostas às inquietações se apresentam e se possibilitam. Pode-se viver sem filosofar, mas com ele o viver se amplia e se consolida como uma atividade significativa e consciente.
Quanto á poesia que enaltece a necessidade do navegar e a contingência do viver, compreendo que para navegar (que é preciso) mares são exigidos para serem desbravados e desbravadores para desbravá-los. Esses devem possuir espírito inquieto e aventureiro para buscarem o desconhecido e misterioso que se encontra no além horizonte e nisto se assemelhariam aos que optam por filosofar.
Rogério Andrade

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O conhecimento

1 - O Conhecimento e seus níveis

O que é conhecer? É uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido.
É uma apropriação pelo sujeito do objeto que pode ser: física (pelos sentidos) e intelectual (pela Razão).
Níveis de conhecimento ou espécies de consideração sobre a realidade:

a) Empírico: também denominado de senso comum ou vulgar; é ametódico e assistemático; conhece o fato e a ordem aparente.
b) Científico: procura conhecer as causas e leis do fenômeno; estabelece generalizações sobre os fenômenos; é metódico e sistemático; busca a objetividade e possui espírito crítico.
c) Filosófico: tem como objeto realidades mediatas, supra-sensíveis; é uma reflexão sobre si mesmo e sobre a realidade procurando compreendê-la em seu contexto mais universal.
d) Teológico: caracteriza-se por ser uma aceitação pela fé daquilo que se manifestou do mistério.

2 – O trinômio: verdade – evidência – certeza.

A verdade: o problema está na finitude do próprio sujeito (o homem) e na complexidade oculta do objeto (a realidade); é o encontro da pessoa com o desvelamento, com o desocultamento e com a manifestação do ser. Quando muito, podemos conhecer os objetos por suas representações e imagens.
A evidência: é manifestação clara, é transparência, é desocultamento e desvelamento da natureza e da essência das coisas. São critérios da verdade: evidência, desvelamento e manifestação.
A certeza: adesão firme a uma verdade, sem temor de engano. Opõe-se à ignorância que é um estado intelectual negativo, que consiste na ausência de conhecimento relativo às coisas por falta de desvelamento. Apresenta-se como superação da dúvida e da opinião.

3 – A formação do espírito científico:

Tem seu ponto de partida na curiosidade infantil, passa pela inquietação da adolescência e pelos sonhos do jovem.
Natureza do espírito científico: é uma atitude ou disposição subjetiva que busca soluções sérias com métodos adequados para o problema que enfrenta; é expressão, na prática, de uma mente crítica, objetiva e racional.
Qualidades do espírito científico: intelectualmente: senso de observação, gosto pela precisão e pela clareza, exigência da prova, curiosidade e aprofundamento dos problemas e sagacidade e poder de discernimento. Moralmente: humildade e reconhecimento das limitações, da possibilidade de certos erros e enganos, imparcialidade, honestidade e defesa do livre exame dos problemas.
Importância do espírito científico: reconhecimento que o espírito científico é, antes de tudo, um produto da história.

Bibliografia:

CERVO, Amado Luiz e BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

Rogério Andrade

A Democracia na Teoria das Formas de Governo.

A democracia configura-se como um fenômeno complexo. No entanto, a complexidade do fenômeno que é a democracia será deslindada mais profundamente na discussão encontrada na teoria das formas de governo. É na relação com as outras formas de governo que emergirá seu caráter específico. assim, para Bobbio:
(...) qualquer discurso sobre a democracia não pode prescindir de determinar as relações entre a democracia e as outras formas de governo, pois somente assim é possível individualizar seu caráter específico. (BOBBIO, 2004, P. 135)

Valemo-nos do pensamento de Bobbio como condição para sustentação de nosso entendimento acerca da discussão sobre a democracia anteriormente iniciada e, assim, apresentaremos as considerações e classificações que ela recebeu nas tipologias mais relevantes.
Conforme o pensamento do ilustre jurista italiano, a teoria das formas de governo recebeu diversos usos: o descritivo, o prescritivo e o histórico. É na análise destes três usos que poderemos buscar aprofundar um entendimento da democracia em seus limites e perspectivas. Em seu sentido descritivo, também denominado sistemático, encontramos uma teoria das formas de governo em sua classificação constituída à base do seu elemento unificador ou distintivo. Em seu sentido prescritivo as formas de governo serão classificadas em função do valor tomado como base de julgamento de sua qualidade, serão, assim, avaliadas como formas boas ou más. E, por fim, no seu uso histórico, a teoria das formas de governo tenta descrever e classificar, os vários momentos sucessivos considerados como etapas obrigatórias de uma forma a outra.
Uma das mais antigas doutrinas políticas é a que considera a distinção das três formas de governo tomando por base o número de pessoas no poder. Nesta classificação encontramos três formas de governo: a de um só governante, a de poucos governantes e a que tem o governo formado por todos ou pela maioria. A democracia é, em particular a forma de governo na qual o povo (todos ou a maioria) exerce o poder governante. Nas outras duas formas de governo, teremos a monarquia para o governo de um só e a aristocracia, para o governo de alguns.
Heródoto nos situa esta classificação problematizando como poderia um governo de um só homem ser bem instituído se ele pode fazer o que quiser sem ter que dar satisfação a mais ninguém? Considera, então, que a monarquia tende a tornar-se uma tirania. Para ele o governo do povo é com certeza o melhor, porque nele todos são iguais. No entanto, é preciso cuidado, pois ela pode degenerar em demagogia. Por isso, a melhor forma de governo é uma boa monarquia.
Para Platão em seu livro “A República”, a forma idealmente perfeita é o governo dos filósofos. A primeira forma degenerada é a timocracia, ou o governo fundado na honra que nasce quando os governantes se apropriam de terras e de casas. A segunda degeneração é encontrada no governo baseado no patrimônio, no qual os ricos mandam, isto é, a oligarquia. A terceira forma degenerada é a democracia, na qual a todo cidadão é lícito fazer o que quer. Por último, encontramos a tirania como a forma mais extrema de degeneração que pode nascer da excessiva liberdade da democracia. Já no diálogo “O Político”, o filósofo sistematizou a tipologia em três formas: governo de um só, governo de poucos e governo de muitos. Segundo sejam regidas por leis ou desprovidas delas, essas formas motivam respectivamente o Governo régio ou tirania, a aristocracia ou oligarquia e as duas formas de democracia, a regida por leis e a demagógica.
Aristóteles retorna essa classificação acrescentando a ela o governo quanto ao modo de se exercê-lo, para o bem comum ou para si próprio. Deste modo, fica assim a classificação do estagirita: monarquia, aristocracia e politéia, como formas boas visto serem exercidas para o bem comum e, como formas má, a tirania, a oligarquia e a democracia, visto serem governadas para o bem dos próprios governantes.
A classificação triádica passa a ser predominante no pensamento político das formas de governo e a ela os autores se referem tanto no renascimento quanto na modernidade. No entanto, essa classificação tende a ser substituída por uma de caráter bipartido, ou seja, uma tipologia que considera as formas de governo sob a ótica da limitação do poder. Assim, de modo geral, tende-se a considerar na teoria política contemporânea a divisão entre democracia e autocracia. A democracia e a aristocracia podem ser compreendidas como República.
Já no sentido prescritivo, as formas de governo podem ser consideradas a partir de uma valoração axiológica, isto é, podem-se considerar as formas de governo como boas ou más. Nas palavras de Bobbio:
A democracia pode ser considerada, como de resto todas as demais formas de governo, com sinal positivo ou negativo, isto é, como uma forma boa e, portanto a ser louvada e recomendada, ou como uma forma má, e portanto a ser reprovada e desaconselhada. (Ibidem, Ibid, p. 139)
Nesta ótica, destacam-se alguns traços que podemos apresentar para uma qualificação positiva da democracia. Ela é boa por que: nela a lei é igual para todos, é um governo de leis e não de homens e a liberdade, tanto na vida pública quanto na vida privada, é respeitada. No entanto, vimos que há posições contrárias à democracia. No pensamento platônico, a idéia que se encontra é a de que a democracia é a pior de todas as formas degeneradas de governo, pois o seu princípio de liberdade transforma-se em licenciosidade, já que prevalece o império dos desejos de atender às necessidades supérfluas, ou seja, irrompe na democracia o atendimento à liberdade dos pobres, deixa-se conduzir pelos desejos de caráter material contrariando a perspectiva do modelo ideal de prevalência da virtude própria dos sábios.
Em Aristóteles, a distinção que leva em conta uma valoração axiológica, o governo de muitos aparece tanto como forma boa, quanto como forma má. Na primeira situação encontramos a Politéia, que é o governo de muitos em vista do bem comum. A democracia corresponde ao governo de muitos em sua forma degenerada, pois o critério do governo é o próprio bem do governante, que são os pobres. Para o filósofo a democracia degenera-se porque os pobres aliam-se a uma elite desejosa de poder e dão apoio a atos de vilanias praticados em nome de todos, mas que na verdade estão a serviço dos próprios governantes, eis porque ela se degenera em uma demagogia.
No pensamento político moderno, teremos ainda, uma compreensão axiológica da democracia, pelo menos até a Revolução Francesa e com as devidas e honrosas exceções, de caráter negativo, sendo ela preterida pela monarquia. A disputa em torno da democracia estende-se ao problema de saber se ela é melhor ou pior do que as outras formas de governo. As teses possíveis levantam o problema considerando se ela é a melhor, se é a pior ou se está no meio entre a melhor e a pior forma de governo. O problema mais relevante é quanto às duas primeiras, isto é, se é a melhor ou a pior.
Como já dito anteriormente, na antiguidade ela poderia ser classificada tanto como a pior, quanto como a melhor, prevalecendo a primeira classificação. Do mesmo modo, encontramos no pensamento moderno a classificação da democracia como sendo pior do que a monarquia. O que mais se leva em conta em tal compreensão é a qualidade dos governantes. Na democracia, como é o povo quem governa, encontra-se uma maior probabilidade para a corrupção e para a demagogia. Para a corrupção, pois, tendo em vista a origem miserável e famélica do povo, este pode servir de instrumento para uma elite utilizar-se de tal condição e, em nome dos anseios e desejos deste povo, governar em proveito próprio, ensejando assim a demagogia.
A monarquia, seria deste modo, a melhor forma de governo porque trás a marca da competência de quem governa e ao modo de governar. Em teoria acredita-se que na monarquia o governante comporta as qualidades necessárias ao exercício do poder, bem como, mantém sua unidade.
E aí se configura uma outra discussão dentro da anterior e que se refere ao fim último do Estado. Aos que se posicionam em favor da unidade do poder, portanto em favor da monarquia, o problema principal é o da liberdade dos governados, visto que o monarca pode agir em prejuízo dela. Do outro lado, quem se coloca em favor da liberdade dos governados tem aí seu principal problema, pois é a liberdade dos indivíduos singulares que está em jogo e pode agir inclusive em prejuízo da unidade do poder.
A solução em defesa de democracia é a compreensão de que o governo e o governante se identificam, é a “eliminação da figura do governante como figura separada da do governado”. (Norberto Bobbio, p.145) A solução passa pela consideração de que o poder (O Estado) surge mediante uma associação dos homens entre si. É a idéia do contrato social como produto da liberdade dos homens em firmar um pacto que visa à promoção da liberdade, como autonomia, pois é um pacto proposto pelos homens a si próprios, e da igualdade, pois ninguém transfere a outro a sua própria capacidade de decisão não se sujeitando a ninguém senão a si mesmo.
Este se torna um dos argumentos principais em defesa da democracia, senão o principal. Um segundo argumento forte em favor da democracia é que o governante não pode abusar de si mesmo, no caso o povo não pode abusar do poder contra si mesmo. Deste modo, o legislador e o destinatário da lei são a mesma pessoa. E um terceiro argumento consiste em que os melhores intérpretes do interesse coletivo são os que fazem parte da coletividade e de cujo interesse se trata.
Por fim, no sentido histórico, a teoria das formas de governo apresenta os vários momentos sucessivos do desenvolvimento histórico considerado como uma passagem obrigatória de uma forma a outra. Para os antigos a democracia ocupa a última forma dos governos antecedida pela monarquia e pela aristocracia. É uma visão regressiva. Já na Idade Moderna, passa-se á concepção progressiva onde a monarquia apresenta-se no fim do ciclo.
O argumento clássico contrário à democracia consistia em considerá-la possível apenas nos pequenos Estados. Estabelecer a reunião de todos (ou da maioria) e possibilitar as decisões por meio da antecipação dos indivíduos, torna-se uma dificuldade muito grande, quase impossível, a menos que o Estado seja pequeno, “no qual ao povo seja fácil reunir-se e cada cidadão possa facilmente conhecer os demais”. (Apud BOBBIO, 2004, p.150)
O advento da formação da democracia Norte-americana, no entanto, vem trazer à tona a discussão em defesa da democracia, pois demonstra a possibilidade de que ela possa se estabelecer em um Estado territorialmente grande. No bojo da discussão surge e se apresenta um critério novo, que não é mais necessariamente a participação direta do cidadão, mas a possibilidade de que ela possa efetivar-se por intermédio das associações, portanto, de modo indireto.
Como o associacionismo desejou-se legitimar a associações de interesses homogêneos facilitando uma vontade coletiva numa sociedade plural e diversificada em suas tensões sociais. Dado o direito da livre associação partidária, estabelece-se a possibilidade de contribuição democrática de cada um. Nas palavras de Bobbio “a consolidação da democracia representativa, porém, não impede o retorno à democracia direta, embora sob formas secundárias.” (2004, p. 154)
Para Kelsen, a democracia em seu mais alto grau tipo ideal é a democracia direta. Tal qual Rousseau, ele também defende que esse tipo de democracia só é possível existir em condições muito simples de vida social e em comunidades pequenas. Portanto, em sua compreensão, na vida política moderna não há espaço para esta forma de democracia. Abrem-se os portões para a democracia indireta.
O princípio da autodeterminação política característico da democracia como governo do povo, embora enfraquecido, passa a ser estabelecido por meio da representação parlamentar. Este, por sua vez, deve ser formado pela escolha livre do povo. É o parlamento, como representação política formado eleitoralmente pelo povo, que passa a assumir a função legislativa, administrativa e judiciária do Estado e do poder político. Contudo, fica estabelecida a ideologia de que o povo governa, quando na realidade, sua função limita-se à criação do órgão legislativo.
Embora condenada como forma imperfeita, a democracia indireta ou representativa apresenta-se como a única forma possível de democracia em um estado do tipo burguês. E, necessário se faz, que se alarguem a participação direta do cidadão em suas diversas instituições, não apenas políticas, mas também sociais, isto é, não se defende apenas a democracia enquanto modelo de organização política, mas fundamentalmente, enquanto condição de atuação política.
Rogério Andrade

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Incentivo ímpar.

Com este título li uma reportagem em uma revista especializada em informática denominada "A Rede" que tratava do incentivo do Governo Federal para que os professores de escolas privadas e públicas possam comprar notebook a preços reduzidos e com financiamento em até dois anos. O projeto é denominado de "Computador portátil para professores" e o preço sugerido dos mesmos será de até R$ 1.000, 00.
Até aí tudo bem, parecia ser uma grande notícia. A decepção veio quando li a configuração sugerida para o notebook: sistema operacional linux, memória RAM de 512 Mb, disco rígido de 40 Gb, modem de 56 kbps e mais 27 aplicativos educacionais instalados.
Qual a razão da decepção? Muito simples: um computador portátil com esta configuração já encontra-se no mercado por um preço igual ou menor ao que o Governo propõe aos professores. Além do mais, com esta configuração em menos de meses este notebook já estará defasado para o avanço da informática.
Tal atitude do Governo somente demonstra que a preocupação com a educação é de desvalorização da mesma. Penso ser uma falta de respeito ao professor tal sugestão, pois pressupõe que a condição de renda dos mesmos é tão baixa (talvez não seja um presuposto, mas uma constatação e se assim for, eis a nnecessidade de um maior apoio aos professores!) que eles não podem se equiparar em equipamentos ao que há de mais moderno e atual no mundo da informática.
Mas não é o fim do mundo, talvez um pequeníssimo começo.
Rogério Andrade

Só para constar.

Saudades, não da minha terra e nem da minha gente. Saudades de meu filho e de Minha Rainha que estão em nosso castelo. Eu? Estou no trabalho (que coisa chata é trabalhar! Ainda bem que gosto do meu trabalho!).
Quisera eu estar agora com Minha Rainha e meu Príncipe, mas estarei em breve e matarei a saudade que sinto deles no momento.
Rogério Andrade

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mais uma vez o tempo!



Blogs, em tese, são diários virtuais. A atualização deles deveria ser, também em tese, diária. O meu excepcionalmente, é atualizado mensalmente.

Hoje escrevo apenas para lembrar que o mundo fica mais lindo e maravilhoso quando estamos amando. Eu continuo amando e muito a minha família, Minha Rainha e Meu Príncipe, vejam se poderia ser diferente!


segunda-feira, 14 de abril de 2008

Uma breve história do tempo...

Como o tempo passa! Há um mês eu postei o meu último texto no blog e não havia me percebido da passagem do tempo. Mas o tempo não passa depressa apenas para as coisas da net.
Olhando por outro lado, também já faz um mês que vivo a experiência única de ser pai. Meu Príncipe está comigo a um mês e eu nem sequer vi o tempo passar.
É uma experiência maravilhosa, é uma aprendizagem única, aprende-se até a fingir que se está acordado quando se está dormindo!
O mais legal de tudo é que aprende-se cada vez mais a AMAR!

sábado, 8 de março de 2008

Ser pai.

Indescritível sensação. Vivo a maior experiência de minha vida e, talvez, a maior felicidade. Tenho o Matheus Gabriel em minha vida, não há palavras que traduzam a minha felicidade.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Eclipse lunar.

Na madrugada de hoje a Lua eclipsou. Fenômeno que eu não vi, estava eclipsado dormindo. Mas soube pela mídia. Lindo, radiante, místico, apaixonante e enigmático (não tanto mais nos dias de hoje) foram adjetivos recebidos pelo fenômeno natural (!?)
O que me motivou a postar este tópico, foi a percepção de como a humanidade muda em sua relação com o mundo. Em séculos passados o mesmo fenômeno seria motivo de desespero, pois poderia muito bem ser entendido como sinal dos deuses de que as trevas predominariam sobre a Terra! Poderia ser visto, ainda, como agouro.
Hoje, recebeu aplausos! Foi considerado influência para os apaixonados e motivo de aprendizagem para as crianças que moram nas grandes cidades e/ou em residências verticalizadas.
Seria o eterno deus-mudança em manifestação? Ou apenas o ser humano perplexo diante da magnificência do mundo e da natureza? Ou ainda, o reconhecimento de em pleno século XXI muitos ainda estão ignorantes quanto ao mundo em que vivem?
O mais importante é que o fenômeno foi lindo, mesmo sendo visto pela tela da TV.
Rogério Andrade

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Filhote de mucura


Hoje não vou escrever, vou colocar uma imagem....


Para quem não conhece, este animal não é um rato, mas um parente próximo. Nós maranhenses o chamamos de mucura...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Filosofia: problema de origem e conceituação

Tanto em termo, quanto em conceito, a Filosofia é uma produção tipicamente grega. Enquanto termo, é composta por duas outras palavras gregas philos e Sophia. A primeira derivando de Philia e significando amizade, amor fraternal. A segunda denotando sabedoria. Assim, o termo philosophia pode ser traduzido como: amizade à sabedoria ou amor à sabedoria, sendo o amante do saber um philosopho.
Enquanto conceito, a filosofia é entendida como “aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causa das ações humanas e do próprio pensamento.” E, desse modo, aparece pela primeira vez na região da Ásia Menor, na Grécia.
Evidentemente, não se trata de afirmar que outras culturas e povos, principalmente os Orientais, não possuíam um saber. Trata-se de reconhecer as características próprias desse novo saber dentro do contexto sócio-político específico do mundo Grego, o que permite apontar uma superioridade do mesmo em relação a outros povos neste ponto específico.
Embora outros setores componentes do povo grego possuíssem correspondências junto aos demais povos do Oriente, que alcançaram um nível elevado de civilização antes deles, no que se refere à Filosofia, não encontramos nada que se assemelhe àquilo que floresceu nas colônias da Ásia menor. Mas, não há tampouco nada que lhe seja estreita e especificamente análoga.
Não faltaram tentativas de aproximar, e até situar, a origem da Filosofia no Oriente. Tais tentativas, entretanto, esbarram em uma série de provas contrárias à tal tese orientalista do surgimento da Filosofia.
Uma primeira tese diz respeito aos registros históricos. Não há, na época clássica da Filosofia, nenhum acesso dos filósofos ou historiadores à pretensa origem da Filosofia no Oriente. Algumas tentativas realizadas por filósofos gregos da Era Cristã, mais buscavam justificar uma legitimação de si diante dos cristãos, já que haviam perdido a confiança na visão clássica de Filosofia.
É bem verdade, a história confirma este fato, que os povos orientais possuíam uma sabedoria. Uma forma análoga ao conhecimento dos gregos sobre o Homem e o Mundo. No entanto, era feita de convicções mítico-religiosas e cosmogônicas e não uma sabedoria fundamentada na razão pura, como denominada pelos gregos de logos, portanto, anterior à Filosofia.
Considerando que algumas idéias dos filósofos gregos possam ter antecedentes na sabedoria oriental, isto não mudaria o fato de que, com efeito, ao surgir na Grécia, a Filosofia representou uma forma nova de expressão espiritual que, mesmo acolhendo outras formas espirituais, as modificava dando-lhes uma estrutura formal e rigorosamente lógica. Por outro lado, não temos conhecimento da utilização pelos pensadores regos, de quaisquer escritos orientais ou traduções desses na composição de um pensamento filosófico.
Como sabemos, os gregos utilizaram algumas referências “científicas” provenientes dos Orientais. Dos egípcios, alguns conhecimentos matemático-geométricos. Dos babilônios, algumas concepções astronômicas. Embora carregados de conteúdos, de uma certa sabedoria, tais conhecimentos “científicos” possuíam caracteres eminentemente práticos , voltados apenas para soluções cotidianas sem uma conotação especulativa.
Produzindo um conhecimento com fins práticos, os povos Orientais desenvolveram uma atividade racional no sentido de estabelecerem soluções pensadas para os seus problemas. Entretanto, os gregos transformaram tais noções em uma Teoria geral e sistemática, realizaram uma construção racional e orgânica animados pelo “amor à sabedoria”.
Outros pontos reforçam a tese de nascimento desse novo modo de pensar o mundo tipicamente grego, a Filosofia. No caminho da demonstração dessa afirmação, emergem de modo significativo uma referência à arte, à religião e às condições sócio-políticas grega.
Quanto à arte, a referência limitar-se-á aos poemas épicos devido à importância que têm na educação e formação espiritual do homem grego. Os poemas homéricos, principalmente a Ilíada e a Odisséia, embora com uma concepção pré-filosófica, mítica, tratam a narrativa imaginária levando em conta um sentido de harmonia, de proporção, de limite e de medida, o que seriam posteriormente elevados pela Filosofia à condição de Princípios Ontológicos. Os poemas não se limitam a narrar os acontecimentos, mas pesquisam nos fatos suas causas e suas razões, o que desencadeará filosoficamente na busca da “causa”, do “princípio” e da “arché”. Por fim, procuram apresentar a realidade em sua inteireza, embora de maneira mítica; a Filosofia o fará pelo modo racional.
Hesíodo em sua Teogonia, também contribuiu para a formação de uma espiritualidade única na História. A narrativa sobre a origem dos deuses, coincide com uma narrativa da origem dos fenômenos, do Cosmo (Universo), isto é, com uma Cosmologia. Os deuses e fenômenos se confundem entre si, pois a gênese do Cosmo a partir do Caos, narrada de forma mítico-poética, aplaina as bases para uma cosmologia filosófica que busca no “princípio primeiro”, explicado pela razão, a origem de tudo o que existe.
Quanto à Religião, ao situarmos o contexto grego antigo, é preciso distinguir as esferas religiosas existente, isto é, distinguir entre a religião pública e a religião dos mistérios. Ambas, com seus pontos dissidentes e concordantes, têm importância na solução da questão referente à origem da filosofia, contudo, a religião dos mistérios tende a ser mais relevante do que a religião pública.
Estabeleçamos a relação. A religião pública, que tem como ponto inicial de crenças os poemas de Homero e de Hesíodo, parte do princípio de que tudo é divino, tudo o que ocorre é explicado em função da vontade dos deuses, desde os fenômenos naturais até a realidade da vida social dos homens. A fundamentação de tudo é encontrada na intervenção panteísta de que os deuses se encontram em tudo. Os deuses são entendidos, na verdade, como forças naturais personificadas ou aspectos dos homens sublimados. São, neste sentido, homens amplificados e idealizados, diferindo dos deuses apenas em quantidade. A natureza humana e a natureza divina, confundem-se e diferenciam-se entre si de modo quantitativo e não qualitativo, onde a primeira realiza-se se elevando a si mesma. A religião pública é caracterizada por um naturalismo, assim como foi a filosofia pré-socrática.
Nem todos os gregos consideravam a religião pública suficiente. Assim, desenvolveu-se em círculos restritos, a religião dos mistérios que tinha como principal influência na filosofia grega os “mistérios órficos”. O orfismo tem particular importância porque introduz na civilização grega um novo esquema de crenças e uma nova interpretação da existência humana. Como núcleo central, destacamos: a) o homem possui um princípio divino, a alma, hospedado em seu corpo; b) essa alma, além de preexistir ao corpo, está destinada a reencarnar-se a fim de expiar a culpa do “pecado origina”; a vida “órfica” é o único caminho para pôr fim às reencarnações; d) para os iniciados nos mistérios, há um premio no além, para os não-iniciados, uma punição.
Esse novo esquema de crenças introduz a concepção de homem fragmentado por dois princípios em contraste e luta: a alma, como elemento divino que precisa ser justificado, e o corpo, como lugar para expiação da alma. Rompe-se a visão Naturalista: algumas tendências do corpo devem ser reprimidas e a purificação da alma torna-se o objetivo de viver.
Como última observação quanto à religião, cabe destacar o fato de que os gregos não tiveram livros sacros considerados frutos de uma revelação divina, por conseguinte, não possuíam uma dogmática fixa e imutável, e muito menos uma classe sacerdotal custódia do dogma. A inexistência desses fatores permitiu uma ampla liberdade para o pensar filosófico.
A liberdade da qual os gregos se beneficiaram, diz respeito também à liberdade política. Aqui, podemos começar a destacar as condições sócio-políticas e econômicas que favoreceram o surgimento da Filosofia. É bem verdade que nos Séculos VII a VI a.C. a Grécia passou por profundas transformações socioeconômicas: de país predominantemente agrícola, passou a desenvolver uma produção industrial e comercial, o que levou à criação de centros comerciais, surgidos, primeiramente, nas colônias Jônicas, particularmente Mileto, e, posteriormente, em outros lugares, principalmente Atenas.
Com o surgimento da Pólis, Cidade-estado, e o seu desenvolvimento, o novo segmento social, formado pelos comerciantes e industriais artesanais, começa a questionar e se opor em relação à aristocracia fundiária e erigir um novo modo de vida pública fundado, não mais na virtude guerreira, mas na virtude civilizadora do homem que fundou a Pólis. Esse novo sentimento deu ao espírito grego um impulso do qual a ciência não poderia ficar de fora. A vida pública abria caminho para a ciência.
A constituição da Pólis veio encarnar a concepção do homem como cidadão. É no debate público que o homem se realiza essencialmente, aqui ele coincide com o cidadão e o Estado tornou-se o se horizonte ético. Desenvolver e aprimorar o Estado significa preparar o cidadão (o homem) para enfrentar a sua nova realidade. Aqui, mas do que nunca, o logos, a palavra racional torna-se imprescindível. A Filosofia começa a vislumbrar o seu sucesso como constituinte fundamental da formação da cidade e de seus ocupantes, pois irá permitir o debate e a construção racional dos mesmos.
Realizadas tais considerações quanto ao problema da origem da Filosofia, descreveremos a questão do problema da conceituação grega da Filosofia.
Etimologicamente o termo Filosofia significa “amizade à sabedoria” ou “amor à sabedoria” denotando uma busca incessante. Mas, substancialmente, o que entendiam os gregos por essa amada e buscada “sabedoria”?
Desde o seu nascimento a Filosofia possui três conotações claras e dizem respeito a) ao seu conteúdo, b) ao seu método e c) ao seu objetivo.
Quanto ao conteúdo, a Filosofia pretende dar uma explicação à totalidade das coisas, à realidade em sua totalidade. Para tanto, o questionamento dos primeiros filósofos, a saber, “Qual é o princípio de todas as coisas?”, traz como objeto de investigação filosófica a proposta de compreensão da totalidade da realidade e do Ser e, precisamente, descobrindo-se o primeiro princípio encontra-se a totalidade da realidade e do Ser.
No que concerne ao método, a busca daquela totalidade a qual a filosofia tem como objeto, é realizada por um caminho puramente racional. O que vale á a fundamentação baseada no logos, no argumento e na razão. Não basta a constatação dos fatos, é preciso encontrar as causas precisamente através da razão.
Por fim, o objetivo da Filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade. É amor desinteressado pela Verdade. Embora não tenha objetivos práticos, utilitaristas, a Filosofia não se realiza como algo vazio e sem sentido. Ela possui uma enorme relevância moral e política. A contemplação do mundo carrega consigo mudanças de valores e de visão do mundo e do próprio homem, trazendo um novo significado para a vida e para o próprio homem.
O filosofar tem sua origem marcada pela admiração do homem diante de si e do mundo, diante de toda a totalidade. Sendo assim, a filosofia é irrenunciável e inapagável, pois não se pode extinguir a admiração diante do Ser, nem se pode renunciar à necessidade de satisfazê-la. Enquanto o homem maravilhar-se diante do Ser das coisas e do seu próprio ser, a Filosofia permanecerá.
José Rogério de Pinho Andrade

A Democracia: sentido conceitual.

O termo democracia no entendimento do lingüista Antônio Houaiss, recebe as seguintes conotações:
1) governo do povo, governo em que o povo exerce a soberania; 2) sistema político cujas ações atendem aos interesses populares, 3) governo no qual o povo toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade, 4) sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição eqüitativa do poder entre todos os cidadãos, 5) governo que acata a vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a livre expressão da maioria. (HOUAISS, 2001, p. 935)
O entendimento do termo se configura numa complexidade devido à quantidade de dados a que se refere. Por decorrência, a democracia é um sistema político de governo, isto é, envolve uma organização do poder que exige a participação daqueles a quem se dirige o poder. Não pode se apresentar de forma efêmera, isto é, espera-se que haja uma continuidade em sua prática, pois somente assim é possível o estabelecimento da participação do povo, pois demanda um exercício do debate decisório, bem como vivencia e maturação da lei. Esta, por sua vez, na pretensão de sua validade universalidade, deve atender a vontade da maioria, mas não pode relevar a livre expressão da minoria.
Por isso, compreende-se logo, que oferecer, com propriedade, uma definição categórica e concludente do termo "democracia" não se constitui tarefa de estreita envergadura, pois, como se sabe, muitos significados têm sido oferecidos a tal termo no transcorrer da história do pensamento humano (Hook, 1987, p.63).
Em seu sentido etimológico, democracia deriva do grego demos (povo) e kratos (para poder, autoridade) – demokratia – de forma que uma reflexão sobre a palavra Democracia tem necessariamente que tomar como ponto de partida seu próprio conceito etimológico de o governo do povo.
Neste contexto, o significado de democracia não pode ser considerado explicitado se não se dá conta do fato de que, além da democracia como forma de governo, quer dizer, democracia como conjunto de instituições, a linguagem política moderna conhece também o significado de democracia como regime caracterizado pelos fins ou valores em direção aos quais um determinado grupo político tende e opera, sendo também uma forma de organização política que reconhece a cada um dos membros da comunidade o direito de participar da direção e gestão dos assuntos públicos.
Não podemos deixar de considerar, a perspectiva jurídica, para a qual a democracia é termo constituinte da própria República, tal como reza a Constituição vigente: "A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito (...)" (CF, art. 1°). De um ponto de vista predominantemente político, embora, é claro, também constitucional, pode-se afirmar que um conceito adequado de democracia é o que diz que ela:
é aquela forma de exercício da função governativa em que a vontade soberana do povo decide, direta ou indiretamente, todas as questões do governo, de tal sorte que o povo seja sempre o titular e o objeto, a saber, o sujeito ativo e o sujeito passivo de todo poder legítimo" (Bonavides, 1996, p. 17).
É, em outras palavras, a vontade do Estado, segundo a qual "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (...)" (CF, art. 1º, parágrafo único). Verifica-se, assim, nas supracitadas definições um ponto nevrálgico do debate, que é o de dividir o modo de efetivação do poder popular nas formas direta e indireta.
Destarte, na sua origem, o conceito de democracia encontra definição razoavelmente pacífica na especificação do regime do demos, "nome pelo qual eram designadas as divisões territoriais administrativas na Grécia antiga" (Azevedo, 1999, p.146), de forma que, "por extensão, tal palavra, originada de demokratia, [ou, no grego, δημοχρατία] passou a significar poder popular, governo do povo" (Azevedo, 1999, p. 145).
Como à tal conclusão não tão facilmente se chega, nota-se que os conceitos de "poder popular" e de "governo do povo" não eram exatamente os que se fazem presentes na contemporaneidade, de forma que se diz que não é senão pela dificuldade de se conceituar o que seria poder popular e, por conseqüência, de se delimitar o governo do povo, que o conceito de democracia tem sofrido os mais diversos significados durante a história.
José Rogério de Pinho Andrade

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A ética Kantiana

A ética kantiana apresenta três objetivos principais:
a) Propor um critério de legitimidade da máxima exclusivamente formal;
b) Defender a autonomia da vontade na experiência moral;
c) Manter que as ações morais são somente aquelas que tenham sido feitas por dever.
A ética formal kantiana se contrapõe à ética material. A matéria do imperativo é o mandado, é a instrução de fazer algo; a forma é o grau de universalidade ou particularidade que tenha o imperativo: sempre, algumas vezes, nunca. Então, a característica essencial da ética kantiana consiste em indicar que uma máxima descreve uma ação moral quando cumpre um requisito puramente formal: que pode ser universalizável. Na ética de Kant não é a matéria da vontade, senão, a mera forma da legitimidade universal de sua máxima que constitui o fundamento da determinação da vontade. Um requisito puramente formal como o da possibilidade da universalização pode servir como critério para separar as condutas em dois grupos: as condutas moralmente boas e as moralmente más. Se a máxima da conduta se pode universalizar, então essa máxima descreve uma ação moralmente boa, em caso contrário é moralmente má.
A autonomia consiste na capacidade que o sujeito tem para dar-se a si mesmo suas próprias leis (e a capacidade para realizá-las). É heterônoma a condição de receber as leis de fora, quando se sustentam em outros fundamentos que não o próprio sujeito, tal como as éticas materiais. Kant considera que somente onde encontramos ação moral podemos encontrar liberdade, pois a conduta é determinada pelo próprio sujeito. Quem nos dá o critério da conduta moral é a nossa própria razão. Não é a necessidade física, nem as exigências de ordem social, política, religiosa ou natural.
Por último, em Kant o fundamento das ações morais é o dever e não a inclinação. O dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei. Não basta que a ação seja praticada em conformidade ao dever, mas sim que a seja por dever. Tal rigorismo implica em duas questões: o dever pelo dever, ainda que seja contrária à felicidade do sujeito e dos seus entes queridos e o caráter universal da bondade ou maldade de uma ação. Deste modo, o dever moral, traduzido pelo imperativo categórico, prescreve uma ação incondicionada, isto é, manda algo de modo absoluto. A ação é declarada necessária sem nenhum propósito extrínseco. Somente o imperativo categórico é imperativo de moralidade.
Estes temas são apresentados em seus livros “Fundamentação da metafísica dos costumes” e “Crítica da Razão Prática´. Na Fundamentação da metafísica dos costumes teremos como objetivo principal “a pesquisa e a determinação do princípio supremo da moralidade” enquanto que na Crítica da razão prática trata-se de mostrar que a razão pura é prática por mesma, ou seja, que ela nos dá a lei em que se alicerça toda a moralidade.
Para os nossos fins, teceremos algumas considerações sobre o que se encontra, principalmente, na Fundamentação da metafísica dos costumes.
A primeira seção trata da passagem do conhecimento racional comum da moralidade ao conhecimento filosófico. Apresenta-se analiticamente o principio supremo da moralidade, do modo como se apresenta à consciência humana. Inicia com a constatação:
“Nem neste mundo nem fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação, a não ser uma coisa: uma boa vontade” (p.21)
Mas o que torna uma vontade boa? A resposta em tom enfático nos diz que “é a própria natureza do querer”. Nada de extrínseco pode qualificá-la como boa. Seria, deste modo, a boa vontade, boa em si mesma.
Mas qual seria o seu conteúdo? Na determinação de seu conteúdo há de se considerar o conceito do dever, pois a boa vontade é a vontade de agir por dever. Não basta que seja em conformidade ao dever, atendendo á legalidade, mister se faz que seja praticada por dever, pois, prático ou moral, é só o que depende direta e exclusivamente da razão.
Opõe-se deste modo os planos da legalidade (conformidade com a lei) e o da moralidade verdadeira, que reside na pureza da intenção.
Então, eis um primeiro princípio: o valor moral de um ato reside na intenção, considerada prescindindo do fim visado, ou seja, considerada unicamente como intenção de fazer o que se deve fazer. Associado a este princípio está um segundo que diz respeito ao querer, isto é, o que importa é somente a regra pela qual o homem pauta a sua ação.
O dever pode, então, ser definido como a “necessidade de cumprir uma ação por respeito à lei”. O único móvel moral é o respeito à lei que ordena cumprir o dever. A boa vontade, somente pode ser determinada pela representação da lei em um ser racional que ordena cumprir o dever.
Por outro lado, em toda lei pode-se observar a forma, isto é, a universalidade do seu preceito, e o seu conteúdo. A ação moral implica em obediência à lei, independente de seu conteúdo e é, por conseguinte, a simples conformidade com a lei geral que constitui o princípio de uma boa vontade. Essencialmente nisto consiste o formalismo kantiano.
Na segunda seção intitulada “transição da filosofia moral popular para a metafísica dos costumes”, veremos o conceito do dever retraçado em seu fundamento a priori.
Apresenta-se que o conceito do dever não é empírico, embora derive do uso comum da razão prática. Decorre isto pelo fato de que a moral não se julga de fora, pois não se pode retirar da experiência o conceito de dever, visto ela não poder dar a ele (o dever) a universalidade e a necessidade que o engrandecem. De outro modo, como o objeto da moral é o ideal, e não o real, a experiência se mostra inócua para extrair-lhe algum sentido.
O dever é uma exigência da razão pura, pois o que o caracteriza e o dignifica é ser uma idéia da razão. Configura-se o rigorismo kantiano quando se compreende que a moral é um ideal que a nossa própria razão nos propõe a priori. Deve-se, pois a moral apoiar-se em uma metafísica como estudo a priori das condições de moralidade.
Constata-se, inicialmente, que o homem é possuidor de uma vontade como ser racional que é. Esta é a faculdade de agir segundo certas regras que se constituem em máximas, quando subjetivas, ou em leis, quando objetivas.
Uma vontade perfeita teria sempre a razão como seu determinante, conformando-se imediatamente às leis racionais. Por esse motivo, é que as leis da razão se apresentam como imperativos.
Dois são os tipos de imperativos: os hipotéticos e os categóricos. O primeiro nos apresentam as ações necessárias para determinados fins, enquanto os segundos nos propõem ações incondicionais, necessárias em si mesmas.
Sendo um só, possui o imperativo categórico a seguinte fórmula geral independente de seu conteúdo:
“age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (p. 51)
Depreende-se desta fórmula que “a essência do imperativo consiste precisamente em sua validade em virtude de sua forma da lei.” (Reale, 2005, p.381) Ela não consiste em ordenar aquilo que devemos querer, mas sim como devemos querer aquilo que queremos.
Esta fórmula evidencia a pura “forma” da lei moral, que é a sua validade sem exceções, ou seja, a sua universalidade. Daí derivam todas as formas do dever. Tendo em conta a sua universalidade, também poderia ser expresso da seguinte forma:
“age como se a máxima da tua ação devesse se tornar pela tua vontade, lei universal da natureza.” (p. 52)
Tendo como fundamento a natureza racional como fim em si mesma, isto é, o homem como sendo o único com um fim em si mesmo, o imperativo categórico será expresso da seguinte forma:
“age de tal maneira que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim em si e nunca simplesmente como meio” (p.59)
A terceira formulação do imperativo categórico, semelhante à primeira diferindo no fato de que a primeira destaca a lei e esta destaca a vontade, enfatizando que esta lei é produto de nossa racionalidade e, portanto, depende de nós, diz:
“age segundo uma máxima que contenha ao mesmo tempo em si a sua própria validade universal para todo ser racional.” (p. 68)
Esta terceira formulação supõe a “autonomia” da vontade. Ela nos leva a compreender porque a nossa obediência à lei não se funda na busca de um interesse qualquer: obedecemos à lei porque somos nós mesmos que nos damos a lei. À idéia de autonomia prende-se a idéia de dignidade da pessoa, pois, implica, ao mesmo tempo, a vontade de uma legislação universal e o respeito à pessoa humana que lhe deve dignidade.
Na terceira seção, Kant fará a “transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão pura prática” que é a justificativa da possibilidade do imperativo categórico ou da lei moral. A demonstração constitui o objeto próprio da Crítica da razão prática.
Destacam-se os seguintes aspectos:
A liberdade como condição e fundamento da lei moral: a existência da lei moral não tem necessidade de ser justificada ou provada. Ela se põe à consciência como fato da razão, que só pode ser explicado admitindo-se a liberdade. Como conclusão: nós conhecemos, primeiro, a lei moral (o dever) como “fato da razão” e, depois, dela inferimos a liberdade como seu fundamento e como sua condição.
O princípio da autonomia moral e seu significado: ao sentido positivo da liberdade Kant chama de “autonomia”, ou seja, determinar para si a sua própria lei. “Heteronomia” é o seu contrário. Deste modo, liberdade, autonomia e formalismo estão indissoluvelmente ligados. E todas as morais que se baseiam em seus “conteúdos” comprometem a autonomia da vontade. Agindo pelo puro dever, o homem torna-se “digno de felicidade”.
O “bem moral” e sua dimensão universal: o conceito de bom e mau não deve ser determinado antes da lei moral, mas somente depois dela. É a lei que põe e faz ser o bem moral e não vice-versa. É a intenção pura ou a vontade pura que faz ser bom aquilo que ela quer, e não o contrário. Passa-se do formalismo à ação concreta na medida em que, elevando-se a máxima ao plano da universalidade, ficamos em condições de reconhecer se ela é moral ou não.
O “rigorismo” kantiano se apresenta na condição de que não basta que uma ação seja feita segundo a lei, em conformidade com a lei. Para ser moral, a vontade que está na base da ação deve ser determinada “imediatamente” só pela lei. A lei moral suscita um sentimento, o respeito. Este nasce apenas no homem que encarna a lei moral.
Os postulados e o primado da razão prática: são pressupostos de um ponto de vista necessariamente prático. A sua força está no fato de termos de admiti-los para poder explicar a lei moral e o seu exercício. São eles:
a) a liberdade: no mundo sensível as ações do homem estão ligadas por um encadeamento rigoroso. Mas no mundo inteligível, que foge ao tempo, nada é anterior à sua vontade. Liberdade equivale à autonomia da vontade.
b) a existência de Deus: a virtude (exercício e a concretização do dever) é o “bem supremo”, este é definido como o acordo entre a virtude e a felicidade. A lei moral nos ordena ser virtuosos; isso nos torna dignos de felicidade, o que nos leva a considerar lícito a existência de Deus.
c) a imortalidade da alma: o sumo bem requer a “perfeita adequação da vontade à lei moral”. Mas essa “perfeita adequação” é a “santidade” que é exigida categoricamente e ninguém neste mundo pode concretizá-la, ela só pode ser encontrada em um progresso ao infinito, o que pressuporia a existência e uma personalidade do próprio ser racional que perdurem ao infinito, a alma.
José Rogério de Pinho Andrade

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Lar doce lar!

Como é bom voltar para casa! Ontem retornei ao Meu Castelo depois de uma semana fora (e como foi bom!). Foi maravilhoso poder chegar e encontrar os meus em paz, não tanto com saúde, pois o meu mano Rico está doente, gripe passageira mas incômoda, meu apostolar sobrinho, também um pouco gripado, ressaca do carnaval que não brincaram.
Hoje, a minha gripe se manifestou para solidarizar-se com a de Minha Rainha, também chegou febril e doente em casa, ressaca de viagem creio eu.
A minha fiel Lady Pocotó, como sempre só alegria. Depois de uma semana fez a festa com o papai dela!
No mais, a vida voltou ao normal (quase normal).
Mas como é bom voltar para casa!!!
Abraços filosóficos,
Rogério Andrade

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Longe de casa II

Ai, que preguiça!
Exclamação macunaímica, verdadeira característica dos dias em que estou vivendo. Os gregos me invejariam de tanto ócio. Não os modernos, pois o tempo livre que vivo desde os dias de Momo, de longe se distancia da ociosidade moderna. É sim um ócio criativo! O que tenho lido nestes dias tem me maravilhado ainda mais. De filosofia e direito, passando por ciência e literatura brasileira: Rawls, Dawkins, Machado de Assis, Mário de Andrade e Humberto Eco...cada um mais interessante do que o outro!
Amanhã a realidade se fará presente. Terei que retornar ao meu lar, meu castelo. Não estou achando ruim, pelo contrário, tenho saudade do que é meu e muito mais dos que são meus. Cedo pegarei a estrada com as bençãos do Sagrado, que de acordo com Dawkins não existe, mas compartilho apenas relativamente de suas idéias. Chegarei abençoado do mesmo modo que tenho sido desde o início de nossa viagem de ócio.
Na bagagem de volta, muita saudade e agradecimento pela hospitalidade ímpar de minha cunhada e meu cunhado. Algumas lembranças alimentícias para quem me espera, para que possa matar a saudade de sua origem paraense.
No mais, Ai, que preguiça!
Abraços filosóficos,
Rogério Andrade

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Na terra das mangueiras.

Longe de casa a quase uma semana....mas não distante do meu amor! Ela está comigo, estamos juntos.
Estamos na cidade das Mangueiras, Belém do Pará. Depois de passarmos o carnaval na cidade de Salinópolis.
Hoje na parte da manhã, fomos ao Mercado tradicional da cidade: o Ver-o-peso. Lá comprei para a minha família alguns produtos regionais, dentre eles o tão famoso peixe Pirarucu, também conhecido como o bacalhau do Amazonas. Como custa caro o quilo dele! Mas caro será a sua extinção, algo que não está tão distante!
Para quem não conhece a cidade, aqui todos os dias chove! Hoje caiu uma chuva torrencial, de muito vento e muito forte. Mas como todas as outras, não demorou muito a passar. A novidade é que molhou até dentro do apartamento de minha cunhada. Nada aterrador, Macunaíma me pareceu mais.
Agora, escrevo estas linhas como forma de ocupação mental, embora já tenha feito a minha obrigação diária de leitura. Já que estou na net, aproveitei para ocupar o blog.
Abraços filosóficos,
Rogério Andrade

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Acabou o carnaval 2008!

Escrevia algo sobre o fim do carnaval 2008 mas por algum motivo, deletei o texto. Tentarei colocar as mesmas idéias, embora não mais com as mesmas palavras.
Dizia que em três dias de folia, para outras cidades mais tempo, os "reis" viram súditos e estes viram reis. Os homens, tão machos ao longo do ano, se travestem de mulheres e liberam o que de mais escondido têm em sua personalidade. E como tem homem que gosta de se travestir e o fazem tão bem!
Padres viram foliões e estes padres, freiras se prostituem, enfermeiras e doentes saem dos hospitais que recebem de volta novos foliões.
Este é o fenômeno do carnaval, alegria desmedida, tristeza esquecida, realidade abandonada. É uma pena que acaba, e em tão pouco tempo!
Ficam as ressacas, os amores mal resolvidos, as dores de cabeça, as lembranças e muito mais. Na avenida, somente as purpurinas e o amido de maizena, as sobras das latas de bebida, os restos de fantasias. Estas também não demoram muito em função da atividade de limpeza dos garis que trazem de volta o cotidiano da realidade.
E, na quarta-feira de cinzas, a vida continua e o cotidiano das cidades recomeça, embora outros teimem em esticar o carnaval indefinidamente.
Assim caminha a humanidade!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Longe de casa

Estou distante de casa. Longe daquilo que é meu, vagando pelo mundo de meu Deus. Tranquilo porque os meus olham por aquilo que é meu. Estou distante porque quero me encontrar, me divertir, me esbaldar....
Estou feliz e mais nada.
Abraços filosóficos, Rogério Andrade

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Filosofar ou viver?

Dias desses, vendo à TV (na verdade mais ouvindo) enquanto me arrumava para ir ao trabalho, uma chamada de intervalo em um programa de entrevistas, que não sei bem o nome, me chamou a atenção por dizer algo como: “No próximo bloco: filosofar ou viver? Você saberá o que pensa... (o entrevistado).” Confesso que este não foi um programa que mereceu a minha maior atenção. Meu contato com ele foi mais o resultado de um zaping (mudar constantemente de canal) comum em meu cotidiano televisivo do que uma audiência deliberada.
O que quero com isto? Pretendo comentar uma inquietação que se fez em mim a partir da frase que parecia problematizar: “Filosofar ou viver?”. Embora em dúvidas quanto à qualidade da discussão que o programa tenha estabelecido, coisa que não posso garantir pois não vi a continuidade do bloco após os comerciais, acredito na possibilidade de uma discussão filosófica sobre o tema.
A pergunta “filosofar ou viver?” é de cunho filosófico visto referir-se à uma inquietação sobre a própria vida ou sobre o próprio ato de filosofar. Ela nos remete à cantiga cantarolada pelo baiano Leãozinho a partir das palavras do poeta que diz que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Para o dilema, então, a arte já apresenta uma resposta, embora ele não se refira à arte, mas sim à filosofia. Se viver não é preciso, então a resposta nos leva ao navegar que, por sua vez, não se distingue tanto assim do filosofar. A opção pelo viver, de outro lado, nos remete necessariamente ao filosofar.
Senão vejamos: se alguém optar por viver, isto implica na necessária problematização sobre a vida por meio de indagações como: o que é a vida? Como se deve vivê-la? Poderíamos entendê-la sobre outros significados que não aqueles com os quais estamos acostumados? Ela, a vida, se encerra com a morte ou é apenas uma nova etapa? Que sentidos têm? Deste modo, ao se escolher viver, não se pode furtar ao filosofar, pois é por seu meio que a própria vida passa a ter sentido. A não ser que se viva como o samba canta: “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Mas, mesmo assim, há espaços para o filosofar, visto ainda ser possível perguntar filosoficamente para onde a vida leva ou quem é aquele que se deixa levar pela vida.
No caso de se ir diretamente ao ponto, ou seja, ao filosofar, aquele que opta por tal caminho se encontrará com a própria vida. Por meio do filosofar o viver só pode ser enriquecido e ampliado. É por tal atitude que a vida se esclarece em seus sentidos. As respostas às inquietações se apresentam e se possibilitam. Pode-se viver sem filosofar, mas com ele o viver se amplia e se consolida como uma atividade significativa e consciente.
Quanto á poesia que enaltece a necessidade do navegar e a contingência do viver, compreendo que para navegar (que é preciso) mares são exigidos para serem desbravados e desbravadores para desbravá-los. Esses devem possuir espírito inquieto e aventureiro para buscarem o desconhecido e misterioso que se encontra no além horizonte e nisto se assemelhariam aos que optam por filosofar.
José Rogério de Pinho Andrade

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Passei em Constitucional III

Como os blogs servem para várias finalidades, vou usar o meu hoje somente para falar da alegria de ter passado na disciplina da Professora Cláudia Gonçalves, uma mestra no verdadeiro sentido da palavra. Mas é uma vantagem moderada, pois passei após a prova de reposição de nota. MAS PASSEI. Abraços filosóficos

domingo, 27 de janeiro de 2008

Inauguração

Este é o meu segundo blog. Criei-o sem nenhum motivo aparente, talvez para ocupar ainda mais o meu tempo. Mas, como hoje foi um dia de faxina para mim, quem sabe algo novo como um blog possa ser útil. Abraços filosóficos, Rogério Andrade